sexta-feira, 19 de novembro de 2010

É curiosa a forma como nos vamos afeiçoando a pequenos nadas que fazem parte da nossa vida, pequenas coisas, objectos, lembranças que vamos colocando na gaveta das coisas.

Eu guardo de tudo: tubos de cola espremidos, um nariz de carnaval sem elástico, bilhetes de cinema e autocarro, canetas meio mastigadas, porta-chaves partidos, um esboço de origami. Por si só não significam nada, absolutamente zero, mas cada uma destas coisas tem uma lembrança associada que as transformam em pequenos tesouros. Um dia bem passado na praia, uma namorada perdida, uma brincadeira de menino ....

Na gaveta das coisas tudo se encontra em desordem. E eu em desordem também. O passado desarrumado, os objectos trocados, nada no devido lugar. É assim que deve ficar. As lembranças não têm ordem aparente, vêm à memória espontaneamente, inconscientemente, e é assim que a gavetas das coisas deve ficar. A minha empregada tem o hábito de querer acertar com o local exacto de cada nada, mas por mais que tente fica sempre demasiado à esquerda, demasiado à direita, um grau ou dois, gira no sentido dos ponteiros do relógio e depois no sentido contrário mas a desordem mantém-se. É assim que eu quero. Com o decorrer dos anos vai-se ganhando carinho pelos objectos que são nossos, mesmo aqueles em que decidem mexer. Hoje recordo-me do livro de aventuras que o meu pai me deu em criança, amanhã vejo o guardanapo com a tua letra gravada.

(@ Buenos Aires)

a.r.T.

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