segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Em vinte minutos de trágica conversa a palavra destino foi usada doze vezes e a palavra amizade nove. O meu nome foi pronunciado mais de quarenta vezes, o teu vinte e quatro, sete delas em vão. A palavra dor foi dita em dezassete ocasiões. Alegria, em oito. A palavra desilusão fez vibrar as nossas cordas vocais seis vezes e a palavra felicidade bateu recordes, cinquenta e três vezes. A palavra vida, no singular e no plural, repetiu-se dezanove vezes. O termo cego fugiu por entre dentes em três ocasiões. A palavra deixar, nas suas diversas construções, em doze. As palavras solidão e abandono, coração e aperto, foram ditas por catorze custosas vezes. Expressões como «preciso de ti» e «fica comigo» queimaram as nossas gargantas em ânsias desesperadas um sem número de vezes. As palavras olhos, mãos, boca, sonho vinte e nove. Depois o silêncio.

a.r.T.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Um Ano de Blog

Um ano que escrevemos sem audiência, um ano em que partilhamos sem exigir, um ano que escrevemos pelo simples prazer de escrever.

Uma trindade que anda coxa, uma trindade incompleta, uma trindade ainda por se revelar plena.

Amor, ódio, parvoíce, ideias soltas, constatações mundanas, sensações veladas, segredos revelados.

Uma busca pela concretização sem quaisquer pretensões de agradar, ser diferentes, ser iguais. Não somos poetas, prosadores, escritores nem pensadores. Escrevemos, dizemos, crescemos e assim construímos este lugar, nosso e de quem o quiser adoptar também.

Enquanto tivermos estro, força, dúvidas, paixões, desilusões, olhos e cabeça vamos continuar a escrever.


A.R.T.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Memória Viva

Lembro-me de tudo, de cada pormenor, de cada momento, de cada olhar. Não preciso inventar nada. Guardo-te em mim.

Tenho-te sempre comigo, o teu cheiro, o teu sorriso, o teu toque, a tua pessoa. Quando caminho, caminhas comigo; quando preciso de calor abraço o teu corpo delicado; quando preciso ouvir palavras ternas oiço a tua voz a chamar-me de amor (môr); quando durmo sinto o teu corpo deitado a meu lado. Em comovidas lembranças revivo os dias em que fomos um só, repito sem parar as palavras que me dizias... E cada vez que faço isto sinto-te mais perto de mim.

Sei, conscientemente, que não passam de memórias, de um sonho, mas que mal há em sonhar? Sempre que abro os olhos a tua boca ausenta-se, o teu olhar estilhaça-se, o teu rosto é lavado pela chuva. Então percebo que me encontro inteiramente só, vazio como quem olha à volta e só vê escuro. Ninguém me faz companhia nenhuma, não por não estarem ou falarem comigo, mas somente porque ninguém me preenche como tu, ninguém torna os meus dias tão intensos como tu. A esta hora da noite, parece que estou num deserto: areia, pedras e solidão no meu horizonte. Absolutamente nada em meu redor, nem uma alma à vista. E assim, encontro-me desamparado neste exílio em que me sinto.

Lembro-me de ti, toco o teu corpo, beijo os teus lábios, digo-te que te amo... Sinto-me completo de novo.

Não preciso inventar nada. Guardo-te em mim.


a.r.T.

Opus Imperfectum: Desejo e Redenção

Não sei bem como começou, nem quando. Só sei que tudo acabou.
E desde então que grito por ti. Tu eras tudo para mim, simplesmente tudo, mas perdi-me, perdi-te, e agora sinto-me como um pequeno destroço humano naufragado no grande mar comum, sem amarras para me prender, sem um porto para ancorar.

Pouco a pouco fui-me afastando e deixei que aquele nosso mundo desabasse, como um jogo de micado, até só restar as ruínas de um romance único, raro, desperdiçado. Sozinhos, o mundo era só nosso. Através da unificação dos nossos sonhos criámos uma vida em comum que se sucedia dentro do decorrer de dias inteiros, em que vivíamos, sofríamos e gozávamos juntos... Uma vida que agora sei falsa. Falsa porque lhe faltou ser. Um de nós abandonou o outro, desistiu deste amor. Eu sei, não se arromba a porta de um coração para depois deixá-lo em passo apressado e desajeitado. Hoje, a consciência da minha falta despedaça-me. E assim, tudo o que construímos transformou-se em cinzas agora levadas pelo gotejar de lágrimas de arrependimento.

Num ataque de estupidez resolvi falar contigo. Não sei que disparates te disse. Não sei se te magoei, se te fiz chorar, se te fiz odiar-me. Palavras vadias, verbos vazios, exclamações dolorosas, parêntesis desastrados. Ponto final. Parágrafo. Deve ter sido um repente que me deu, um repente daqueles que me dão e dos quais me arrependo mais tarde: ora estou bem e feliz ora fico miseravelmente descontente; ora estou a pensar com clareza, como de repente fujo para as circunstâncias mais estranhas para não me lembrar de nada no fim. Numa súbita impaciência, entrámos num monólogo, deixei de te ouvir e comecei a vaguear o meu olhar: tu, a televisão, o quadro que nunca gostei, o telemóvel sem mensagens, tu, o sofá, o vaso que eu comprei, o relógio, a televisão, tu, o relógio de novo, e tu continuavas a falar... No canto da sala a televisão sem transmissão, como um quadro de silvo cinzento e pontilhado, enquanto o chuvisco encobria a tua voz cada vez mais baixa e derrotada.

Quando voltei a mim vi que tinhas esquecido os olhos em cima dos meus.  Procuravas adivinhar os meus pensamentos mais íntimos mas terrivelmente distantes. Sem te dar uma resposta, sem uma justificação de jeito, abandonei-te. As comissuras dos teus lábios encresparam-se e contraíram-se num esgar de desapontamento. Silêncio. E a seguir, o bater do meu coração. Olhaste-me da tua solidão e senti que me dizias «fica mais um bocadinho!». Mas não. Dei-te um beijo e fui-me embora. Bati a porta da rua e entrei no elevador. Fiquei por momentos desorientado, fora de mim. Sequei as lágrimas. Enfiei-me no carro e liguei o rádio. Pus o volume no máximo...

Nada mais resta e neste momento, em que escrevo, espreitando os últimos raios de sol mortiço, sou eu que estou amargurado por não ter nesta hora o teu corpo; sou eu quem sofre; sou eu que sinto o corpo dormente e as mãos frias da falta do teu calor. E aqui debruçado sobre estas palavras, só um pensamento me enche a alma: a vontade inteira de te ter de novo.

Apago-me da tua vida e deixo o vento semear novos sorrisos nos teus olhos.


a.r.T.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009


Uma simples questão de geografia fez-me recorrer ao décimo primeiro volume da Grande Enciclopédia Universal. A minha curiosidade interminável acabou por me deter por aqui. Horas, creio. Um inzomeiro, aprendi eu, é um mentiroso, intriguista. O irídio é um metal branco-amarelado, quebradiço mas mais denso que o ouro. Dimitri Karamazov, personagem de Dostoievski, é condenado a vinte anos de trabalhos forçados na Sibéria pela morte do seu pai. Renasce e encontra algo por que vale a pena viver. Kierkegaard, no seu irracionalismo, defende que Deus ou o Ser não podem ser apreendidos pela razão. Nero dava prémios como uma casa ou um escravo. Jeremias pregou a necessidade da reforma interior, a piedade e a justiça pessoal. Os poemas eróticos de Horácio são pouco mais do que versos graciosos de sociedade. Numa das ravinas do Norte da Madeira existem, visíveis a olho nu, massas de essexite brutamente cristalina.

Pouco a pouco a sonolência mental e a preguiça invadem-me. Perco o impulso e envelheço... Deixa-te disto, andas cá de passagem. Para quê desperdiçar horas, entre cigarros e pretensões, se me contento muito mais com um sorriso sincero. Alguma destas enciclopédias sabe o que isso é? Alguém aí tem um sorriso para mim?


a.r.T.

Vi-te num vislumbre e logo a vontade de estar contigo assaltou-me de rompante o espírito enfraquecido. Ter-te a meu lado, tocar-te, segredar-te palavras doces ao ouvido. Mas não tenho nada para dizer e nada para dar senão espinhos e tormentas.


a.r.T.

A paixão é uma forma de engano. Passados meses começa a esmorecer, instalam-se os problemas e revela-se a fraude. E então dá-se a falência total.


a.r.T.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

No Labirinto da Noite


Tenho tido grandes dificuldades em dormir. Não durmo de noite, adormeço de dia, de olhos abertos e espírito alado. Sempre que me deito o caminho do sono é longo demais, como um corredor imenso cheio de agitação. Os gritos na rua que não param, o motor do carro a trabalhar, o telefone que toca, os passos comedidos, as conversas segredadas, a luz ténue que passa pelos estores da janela, há sempre algo que me impede de cair no sono. Até que, nos bastidores do dia, sem pernas para aguentar o cansaço, bato à porta de um pensamento e lentamente sou guiado às profundezas de um sonho a preto-e-branco.


a.r.T.

Gasto as noites a escrever-te recados que nunca chegam a ti. As palavras que nunca te direi escritas a tinta de sussurro, seladas num envelope de silêncio.


a.r.T.

Ainda há dias perguntava eu onde estavas tu, onde e como te encontraria, se seria num país distante se ao virar da esquina. No sitio mais imprevisível acabei por te encontrar. Vi-te, passei por ti, olhei os teus olhos cor de mel e soube logo que nos tínhamos enfim encontrado.


a.r.T.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

quinta-feira, 17 de setembro de 2009


Olho para ti dentro de mim. Espero-te em devaneio no nosso quarto suposto. Sonho-te vindo e entras na cama até mim pela rota da paixão.


a.r.T.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009


Oi People, espero que tenham tido umas Férias à maneira ou que ainda venham a ter antes do Sol começar a perder a força. Hoje devo agradecer ao impulso que me tirou da inércia e me permitiu partilhar um pensamento Flash que tive entre as 17:00 e as 18:00.

Se há quem goste dos prazeres da carne, e não somos poucos, presumo, há também aqueles que de alguma forma, embora reconhecendo as virtudes, a tomem como um extra que apenas deve ser usada q.b.

Sou levado a crer que mais do que os prazeres da carne ou do peixe ou mesmo do picante, que serve para acrescentar ou temperar o que se come, o modo como se cozinha é para mim fundamentalmente uma longa aprendizagem, um constante ousar e test and trial. Tal como num determinado filme, que não me estou a lembrar do nome, em que a cozinheira transmitia os seus sentimentos e sentidos aos cozinhados que preparava e a quem os comesse. Sinto que é "o como" mais do que "o sujeito" desse "como" que valorizo.

A química ou alquimia são segredos que, podendo ser partilhados, não garantem o sucesso da receita; nem mesmo determinados ingredientes proibidos de combinar ou naturalmente complementares passaram de caminhos já trilhados e sem graça para todos aqueles que apreciam aquilo que acho que no fundo nos é dado vivenciar nessas partilhas e não tenham começado agora a sua experimentação. Sou fã da inovação sem no entanto perder o norte quanto àquilo que são os sabores que me guiam os apetites, que sempre à procura de ser concretizados me aguçam o paladar e me deixam captar a essência das coisas.

p.s. - Os ingredientes importa que sejam nobres e que a fome seja negra...


A.r.t.

sábado, 5 de setembro de 2009


Manhã cedo, acordo com a tua voz. Espreito pelo canto do olho semi-aberto e ali estás tu. Perfeitamente tudo para mim. Todo eu me alegro, me realizo, me pulo e dispara-se-me um sorriso de criança. Peço-te para te deitares a meu lado. Encostado a ti respiro por entre o teu cabelo negro e deixo-me levar.


a.r.T.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009


Onde estás tu? Onde e como vou encontrar-te? Será numa esplanada de uma praça engalanada, num abrigo sem tecto com uma lareira suposta, no avião enquanto fujo no rasto de uma garça, à beira-mar à hora do poente? Serás minha companhia numa cama de tojo manso, estarás à minha espera num bar no porão do céu luarento?

E como saberei que és tu se, enfim, te encontrar? Verei mariposas e pétalas de vento, tocarão harpas em surdina, sentirei o sangue quente a formigar-me pelo corpo todo? Terás um sinal, uma etiqueta para que te possa identificar, um sorriso no olhar, um silêncio para partilhar?

Onde estás tu?


a.r.T.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Rio...


Duas horas de sono e sete mil e setecentos quilómetros. Mil impaciências e duzentas e trinta almas anónimas e irritantes. Aterro, tomo um duche no quarto, contemplo a cidade da varanda do hotel e logo, logo, o cansaço transforma-se em alegria. Sorriso número três na cara e lá vou eu: um mergulho nocturno na praia e caipiroscas. Duas ou três...


a.r.T.

Passei este mês em caldo de tartaruga.


a.r.T.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009


Às vezes uma série de pequenas imperfeições formam um conjunto perfeito...
Adoro esse teu jeito imperfeito!


a.r.T.









Ontem via tudo a dobrar e com arrastamento. Tudo parecia mais belo!


a.r.T.

Afinal qual é a minha vida verdadeira? Aquela que me pesa ou aquela que me preenche...


a.r.T.

domingo, 23 de agosto de 2009

R - - - - - O


O apelido é de origem leonesa, mas há registos em Portugal logo no século XI, confundindo-se com a própria criação da nação. O escudo é esquartelado, o primeiro e o quarto de ouro, com três palas de vermelho, o segundo e o terceiro de negro, com três faixas veiradas de prata e vermelho. O timbre, um lírio de verde com cinco flores de ouro. A heráldica diverte-me bastante... mas nada me preenche tanto como dedilhar as cordas do violão que as curvas do teu corpo formam.


a.r.T.

Saudades?


De volta após umas merecidas e bem aproveitadas férias


...

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Interregno


Se eu próprio me bastasse fugiria para todo o sempre. De ti, do teu corpo, do teu sorriso. Mas eu sou frágil. Despedaço-me com os teus leves sussurros e a ternura dos teus gestos estonteia-me.


a.r.T.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Tasca fechada para férias


A banhos algures por aí.


...

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Ficções da minha imaginação


Sinto-me mais à vontade no mundo fictício que criei para mim mesmo do que no mundo do real. A vida das minhas emoções mudou-se para as salas da imaginação e assim passo detalhes de uma vida suposta. Abri uma nova estrada à fantasia e agora sou um estrangeiro na realidade. Calo-me e retiro-me para a região da imaginação, o pais longínquo da fantasia, donde sou natural e onde me sinto à vontade. De quando em quando faço uma incursão rápida, atrevo-me a atravessar a fronteira que separa o meu mundo privado do mundo dos factos ordinários. Transeunte eterno entre aqui e acolá.

À noite, às vezes, com a casa quieta, aconchegado no sofá vou ver os barcos a partir e a chegar no Tejo. Fico a observá-los, atento ao pormenor da navegação, e logo salto para o convés de um veleiro, levanto âncora, solto as amarras, giro a roda do leme dentro de mim, quilhas, mastros, gáveas e velas içadas, e o veleiro larga do cais. Parto em direcção ao mar, por aí afora, pelas ondas... Sinto, e sentindo isto entrego-me mais, os lábios salgados pela espuma arremessada pelo vento, o cheiro da maresia, o sol e ar marítimo curtindo-me a pele, o marulho da água de encontro ao casco cantando-me ao ouvido.

Mas eis que acordo deste meu oceano interior, abro os olhos que não fechei, e o rio tão próximo esfumaça-se como o fumo dum vapor no mar alto. Estou longe do marinheiro que fui há momentos.

Por isso gosto de me perder nas áleas e avenidas da minha imaginação, nos cais e estações do meu devaneio, bastando-me para tanto fechar os olhos na eterna insaciabilidade dos meus sonhos perenes.


a.r.T.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Euzinhos...


Ehehehehhe... Bora lá digo eu às putas das letras hoje - desculpem desde já a quantidade de palavrões e não penso que me apetece exorcizar, mas hoje tem mesmo de ser. Não faço por mal mas apetece-me violar as letras e as palavras. Começo como é claro pelas letras. Obrigo umas e outras a relacionarem-se, mesmo aquelas que sendo Homofóbicas não gostam de se relacionar com as do mesmo género ou suas semelhantes ou seja lá que autocastração se impuseram.

Mas depois penso que devia ter violado antes de mais as regras, e agora com uma objectividade exterminante dirijo-me à gramática e mando-lhe um grande pontapé nos tomates.... e antes de começar a ouvir as letras a gritar de medo começo a rir de satisfação, uma vez violada a gramática as letras só podem mesmo ser algo deliciosas de se papar.

Depois olho para aquela turma imensa e digo algo como: - "Quero tudo na puta da loucura, um gang bang ou algo ainda pior a roçar o inferno de Dante. Ai de quem eu veja a pastar gado na inércia!" Tudo isto ao som de um "Don't stop till you get enough". Depois um segundo acto onde agrupadas as letras alinham em todo o tipo de actividades colectivas dadas a conhecer ao Homem, da guerra ao sexo em grupo passando por tudo aquilo que é passível de tornar a unidade em união.

Concluída essa grande farra e depois de terem sido consumidas todas as energias deste imenso código linguístico deixo-as dormir encaixadas umas nas outras, numa exaustão que me obriga a fazer um pequeno almoço continental, e curtirem um dia em paz e sossego onde ressaca não é o prato principal mas onde acima de tudo a minha ausência, que procuro que seja total, permita mesmo assim orientar as hostes, e onde as letras e palavras possam curar não só a ressaca como todo os ressabiamentos ou desentendimentos ou aversões que tinham entre si, desde que não abandonem aquele espaço que as obriga a se relacionarem mesmo que às vezes com maior ou menor sentido ou maior ou menor número de leitores... enfim elas no fim são todas minhas amigas e só algumas minhas amantes mesmo.


A.r.t.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

«Quis Saber Quem Sou, O Que Faço Aqui...»


Pergunto a mim próprio um sem número de vezes por que razão a minha vida tomou a forma e o rumo que tomou. Por que me tornei eu um empregado de escritório? Um administrativo, administrador de papéis e faxes, gestor de resmas de correspondência, atendedor automático humano de chamadas, agrafador compulsivo de contas alheias... Por que vivo sozinho neste apartamento minúsculo? Império de um César caído, sem espaço para ter uma mesa e cadeiras para receber os amigos que não tenho, para por o piano de cauda que não sei tocar, sem uma porta por onde fugir numa possibilidade de desabamento do tecto de astros... Por que sou assim, frio e ausente? Um ser frágil, de corpo envenenado. E por que razão penso em tudo isto agora?

Irrequieta-me pensar nisto, perco o sono, fico exausto e descontrolado. Sou como sou. Sou quem sou. Sou. Mas quem sou eu afinal? E por que serei eu assim? Será que cheguei aqui depois de ter entrado por um qualquer caminho errado ao longo da vida? A nossa vida, afinal, é definida por oportunidades, mesmo aquelas que perdemos. Se tivesse feito opções diferentes ao longo da vida seria eu muito diferente daquilo que hoje sou?

A vida é para nós aquilo que concebermos nela. Eu esculpi a minha vida como se de um sonho inacabado se tratasse. Uma vida que nunca chegou verdadeiramente a sê-la. Em sonhos consegui tudo, mas na vida vivida não sou mais que uma sombra de porcelana daquilo que sempre quis ser. Quero ser tal qual quis ser e não sou.

De que vale pensar nisto se a minha vida afinal é mais que isto? Hoje acordei sereno, demasiado sereno para estar bem. Demasiado fraco para me deixar abalar por interferências existenciais. Sinto-me a encolher dentro da cama de lençóis frios. Dói-me a cabeça. Dói-me o corpo. E devagar extingo-me, devagar... Deixo-me ficar deitado sem me mexer. Faço um esforço para me levantar, mas o dia não promete mais que um rol de perguntas inúteis.



a.r.T.

Duas horas. Duas horas que pareceram infinitas, durante as quais estive ali, sentado, esperando que falasses comigo. Em duas horas os músculos do coração contraem-se e relaxam-se, contraem-se e relaxam-se de novo, oito mil vezes. O ponteiro dos segundos move-se sete mil e duzentas vezes. A terra percorre duzentos mil quilómetros na sua órbita. O beija-flor bate as asas quinhentas e quarenta mil vezes. Duas horas são quase nada. O tempo suficiente para escutar a Nona Sinfonia de Beethoven e dois dos quartetos póstumos, para voar de Lisboa a Paris, para fazer passar o jantar do estômago para o intestino delgado, para ver a obra-prima de Elia Kazan, Esplendor na Relva, para morrer de mordedura de uma cobra. Nada mais. A mim pareceram-me uma eternidade. Duas horas que esperei por ti em vão...



a.r.T.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Aplaudo de Pé

O Pão e Circo continuam em alta, mas hoje sinto que se come mais o pão sozinho e vê-se o circo pela televisão. Estamos por sinal mais distante da realidade? O que não parece perder o vigor de tempos idos é a capacidade dos aplausos que, mesmo que se tenham tornado um pouco mais banais, não deixam de encher de aquele gás raro chamado de Ego todos os que o recebem.

Aplaudo de pé todos os que não exercitamos as virtudes pela excelência delas, mas pela honra do exercício das mesmas.


A.r.t.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Pica-pica, pica mas é o...


Um nada bem pior do que todos os "rien, meu filho, rien", que é sem duvida das melhores expressões que invadem o nosso rico Portugal aquando da chegada do Verão, é o que se segue:

Todo aquele vazio que sinto quando oiço um "nade de isto ou aquilo..." faz-me ter reacções espontâneas de uma natureza que procuro apenas descrever como ao mesmo nível do estímulo.
Fico mesmo apreensivo com aquilo que somos, e quanto à verdadeira castração, censura e medo que está em nós - e diga-se que é em nós que devemos cuidar de manter, é que a menor gota dessa matéria gordurosa, polui um volume incomensurável de coisas boas que tendem a ser mais sensíveis do que aquelas que verdadeiramente são merecedoras dessas imposições de limites ou restrições.

Continuam a existir Bestas e essas, que acham e vão mesmo mais longe ao agir em nome de algo que supostamente deverá ser na sua opinião a mais valia das mais valias e aquilo que temos de cuidar mesmo que em sacrifício de tudo o resto, essas bestas sim é que deveria usar mais o filtro em si próprios do que seja lá no que for...

Alguém uma vez me disse que para uma estrela brilhar não tem de eclipsar as outras, mas acho que as bestas não são dadas a conter este tipo de conteúdos e por isso acho que ainda vou ter que gramar com muitas besteiras e praticar também mais algumas, sim não me livro disso, mas ainda bem, pois bem como para se falar de amor nada como o sentir na pele esse estado, o mesmo se aplica às coisas menos elevadas.

Mas antes de sentir a picadela do veneno que todos sabemos que é usado pela cobra nos outros outros animais, quero dizer que o que poucos sabem que a própria cobra não é imune ao seu próprio veneno...


A.r.t.

sábado, 11 de julho de 2009

Calhaus Há Muitos


Um calhau será sempre um calhau. Um calhau da calçada jamais transformar-se-á num diamante. Pode, quanto muito, lapidar algumas arestas para parecer-se menos com um calhau e mais com um diamante mas sem nunca chegar verdadeiramente a sê-lo.

Esta ideia ocorreu-me depois de ter estado recentemente num jantar na presença de alguns calhaus que, curiosamente, ao fim de tantos anos, ainda têm pretensões a outra posição geológica que não a de pedras não preciosas. A estes calhaus, que vou encontrando ao longo da vida, digo-lhes: «Deixem-se de aparências! De que vale ter o cabelo arranjado e as unhas feitas se se tem a alma suja? Sabem, um calhau será sempre um calhau.»


a.r.T.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Saferzone


Ler ou ouvir determinadas coisas deveria abrir-nos os horizontes ou, acima de tudo, acrescentar algo para irmos mais longe. Mas e quando faz exactamente o oposto? É que o "velho do Restelo" ainda se encontra em muito do que por ai é dito à boca miúda ou graúda sem, no entanto, ser totalmente clara essa postura. A língua portuguesa que, convenhamos às vezes trato muito mal, não deixa de ser muito polivalente e até dada a uma certa ambiguidade, mas sinto-me à vontade para dizer que hoje é comum não querer levantar muitas ondas nem nada que agite a nossa pessoa e muito menos os outros, se não forem claros os ganhos dai resultantes. Sim, tinha de haver essa resalva, o people por aquilo que quer faz as coisas mais sórdidas e absurdas e defende a beleza do seu cadáver até à impossibilidade e mais além. Mas pretender-se uma falsa segurança mergulhada numa mediocridade mediana ou, simplesmente, reconher-se a ideia mais redutora que seria a de colocar as coisas apenas como uma questão da nossa própria dimensão. Eu, eu, eu, eu e todos os a mim referidos eus, no fundo talvez a nossa limitada capacidade de avançar ou recuar seja antes de mais um eu profundo e egoísta, saturado de "em minha função" e onde no final impera o se vale ou não a pena ir para além do safezone...


A.r.t.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Warp Speed...


Para quê ficar aquém é não mais além?


Ui, hoje voltei a gramar com um determinado e cabal NÃO que me tira do sério. Descurto a dica de cair em graça ou seja lá o que for que vá ao encontro de uma contenção ou moderação de estilo ou forma quando está mais do que evidente toda a magnífica presença de um determinado e avassalado "ELEMENTO". Se ele é gritante porque não gritar? - "Ahhh, é que fica mal", alguns irão insinuar ou porventura temos de mostrar apenas aquilo que de melhor possuímos e que ajude a ilustrar toda a nossa magnífica pessoa em todo o seu esplendor. Hoje foi uma Médica, mas bem podia ter sido o coveiro iria resultar igual.

Posso não dar tudo aquilo que queres mas não deixo de dar tudo aquilo que julgo ser o que precisas. Posso sempre aceitar que isso não é uma perda de tempo, pois vejo isso como parte do contrato de ter uma parte activa e positiva no momento com quem estou.

Agora junto todos os médicos e médicas do Mundo e aquilo que alguns, que não eu, pensam e têm como opinião e alimento aquilo que sinto e acredito, o que dai resulta será algo próximo de um ir muito além de palavras ou um simples navegar sozinho, seguindo alguém que não o sabe. Acho que não fomos feitos para segurar cavalos, mas sim para os agarrar na crina enquanto cavalgamos e por isso, sim, estou pronto para acordar amanhã... E não devo ser o único, a minha voz às vezes fala mais do que por mim, fala em mim...


A.r.t.

domingo, 5 de julho de 2009

Possuir ou talvez não?


"Possuir é perder. Sentir sem possuir é guardar, porque é extrair de uma coisa a sua essência"


Fonte: "Livro do Desassossego" Autor: Fernando Pessoa


A.r.t.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Coisas para partilhar...


O Mar e o Céu lá continuam a namorar eternamente. Oh, como é bela a imagem numa coisa que ouso apenas definir como o mais profundo platonismo possível de constatar de olhos abertos! No entanto, nem mesmo as nuvens, ou seja lá o que for que exista e que ouse interferir nessa composição, se mostra capaz de ir além de uma breve interferência naquela interminável relação de factores paisagísticos. E como seria triste um mundo sem o belo!

E imagino até que, mesmo quando daqui a muito tempo um dos dois cesse de existir, o outro deixará seguramente de ter alguma relevância verdadeiramente. Digo mesmo, não sou capaz de supor melhor relação do que essa, no sentido que faço da natureza desses dois elementos. Dai eu concluir que uma certa distância até pode ser em certa medida uma mais valia, mas não é seguramente aquilo que preenche o individuo numa relação, como também, salvo excepções, o dito platonismo nunca concretiza uma verdadeira interacção entre elementos que aos meus olhos tão bem se conjugam.

O Azul tem algo que me apazigua. E o sentimento que retiro de constatar o horizonte é para além de uma imensa liberdade e uma infinidade de possibilidades em aberto que lá cabem. Talvez esteja só a sonhar de olhos abertos, mas para mim essa linha imaginária é, acima de tudo, um sentimento que se materializa sempre que a retina olha um pouco mais longe do que é necessário.


A.r.t.

quinta-feira, 25 de junho de 2009



Na tranquilidade da noite florescem por detrás desta janela indiscreta luzes sem fim. Tudo na cidade que daqui vejo reflecte a luz das ruas e sobe para ferir vagamente os meus olhos vidrados. Fico em silêncio a observar com emoção. Uns minutos. Creio que não penso em nada. Agrada-me um pouco de vazio e nada. Participar da noite e do silêncio. Apenas um fio invisível liga-me ao que se passa lá fora deste falso privilégio de altura.

Num sobressalto de consciência, a recordação amada cresce em torno de mim e traz-me de volta. Por que não estás aqui para me consolar da insuportável tristeza desta magnifica noite que se vê do lado de fora da minha janela? A escuridão luarenta do céu, os diversos tons de cores dos candeeiros acessos, um corpo indistinto, as sombras murmurantes, os ruídos sibilantes que irregularizam esta imagem irreal. Tudo isto me dá vontade de explodir em ânsias! Não é somente esta paisagem. São os meus braços que oscilam pendentes, a minha mão enquanto escrevo, os meus ombros cansados, a poltrona que vai levantar voo a qualquer momento, o meu rosto reflectido no vidro quase fosco da janela. A vontade de te ter de novo...

Sem ninguém, abro a janela para dentro de mim e esqueço-me desta paisagem interior que se esfumaça. Quem me dirá as palavras inauditas que gostaria de ouvir no silêncio que vem da luz declinante?

O meu coração já não está onde o deixei.



a.r.T.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Perdem-se Para Alguém as Encontrar...


Uma vez que entram em Cena sabe-se logo aquilo a que vêm e não há volta a dar à questão. Observo à distância e sinto a intensidade da sua presença e do quanto pode ser poderosa a envolvência criada pela mesma. E, embora nunca deixe de pensar que há sempre a possibilidade de escolha, reconheço a facilidade em nos deixarmos cair na tentação de alinhar no jogo.

Seja como for tenho alguma admiração secreta por essa capacidade de potencializar algo tão simples como a atracção entre os géneros. Mesmo quando estou próximo o suficiente para sentir toda a dimensão desse estar e ser que condiciona e tolda toda a nossa razão, e nos leva a seguir os ritmos primordiais das pulsões que existe entre ser presa ou predador, penso que devo ser retorcido como o camandro, pois regra geral os meus fusíveis de segurança disparam e eu tenho nesse instante uma oportunidade de observar a realidade de dentro do olho do furacão em plena acção: é uma cena entre o cagaço e o total "I AM THE BEST", pois embora saiba que me permite recuperar alguma da dignidade de dizer sim ou não, se isso for verdadeiramente o que pretendo, não deixa também de ser uma defesa de muitos anos de evolução como presa. Adoro essa sensação de observar as coisas nos olhos e saber que na verdade das verdades há algo mais forte do que a simples vontade de um querer, e quando sinto esse arrepio dou graças a Deus por existirem coisas mais intensas do que o simples beber copos e trocar ideias entre amigos e amigas ou mesmo o acto mais puro e duro de entrega entre o homem e mulher. É que para mim esse instante em que os olhos se cruzam e a mente sabe que tudo pode acontecer é, sem duvida, efemeramente perpétuo ou perpetuamente efémero. Não interessa, eu curto essa onda.

Ah, queria também dizer a todas as Dirty Diana's do mundo que embora não seja essa a minha onda sou fã da vossa máxima : "- Não ele não vai dormir em casa, porque hoje ele vai dormir comigo".


A.r.t.

Sonha comigo acordada. Sonha comigo a dormir. Sonha comigo em sonhos sonhados. Sonha comigo nos intervalos em que o sonho te foge. Sonha comigo. Tanto me basta!


a.r.T.

Cabeças Há Muitas...


Andam muitos a festejar o São João mas no fundo todos eles não passam de uns masoquistas que gostam de levar com o martelo nos cornos e continuar a passear anestesiados com a restante manada por ruas pejadas de gado enquanto comem sardinhas no pão e entornam uma qualquer carga etílica bucho abaixo.

Já chega de levar nos cornos, está mesmo é na altura de começar a retribuir o favor a todos aqueles que durante os restantes dias o fazem sem ser com o martelo de plástico e que, no entanto, não se sentem menos à vontade para martelar no crânio alheio - sem esquecer aqueles que não merecem marteladas mas sim uma valente poda nos galhos que lhes saem da testa nessa também modalidade de masoquismo chamada de «Corno».

A todos os demais floreados e berloques que possuam na testa ou qualquer parte do crânio um enorme bem haja e cuidado com o sol, usem chapéus!


A.r.t.

terça-feira, 23 de junho de 2009

De Onde Vem e Para Onde Vai Todo Este Calor ?


Às vezes parece ser do espaço exterior outras vezes de alguma pulsão interior, seja como for, mal começa e já sei à partida que é coisa temporária. Bom mesmo é que o dito tenha casa própria pois isso de andar a saltar de fora para dentro e de dentro para fora acaba por pedir mesmo um lugar onde ele esteja em casa. Por agora aluguei-lhe um quarto em mim...


A.r.t.

Baixinho o murmúrio da ausência
atormenta a doçura do sonho.
Mas a lembrança dos
teus lábios, numa
torrente de beijos,
desperta-me do torpor
e conquista-me de novo.

És o meu pedacinho de sonho.


a.r.T.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Ideias de Facto


Visto o olhar com a vertigem do sono, calço um ou dois copos bem cheios e corro para a rua antes mesmo de ser a hora marcada. Oh pá não te armes em cavalo de corrida que sinto a sela a deslizar dorso a baixo, tenho mesmo é que apertar o cinto. Oiço o vento e aquele silencio diz-me que mesmo antes de levar com o ar fresco da noite, o desastre espera-me e o seu acidentado amigo, que tarda mas não falha, meto a mão no bolso e vejo que trouxe de facto comigo pouco mais do que ideias, mas não faz mal hoje gasto menos amanha gasto mais, haverá um dia certamente mais selva do que animais ?


A.r.t.

Mioclonias do Adormecer


Um grande amigo meu tem, recorrentemente, um sonho em que voa. De repente levanta voo, qual avião, qual super-homem, e começa a percorrer os céus. Até que, numa vertigem inesperada, tem que se agarrar a um poste com medo de cair. Acorda e cisma durante horas.

Esta noite sonhei com algo semelhante. Num instante estava deitado na minha cama e noutro estava a voar. Ganhei as capacidades de um pássaro, voando sob o céu laranja e roxo. Rajadas de vento enrolavam-se à volta das minhas asas ateando um fogo que parecia irromper em labaredas. A amplitude das minhas acções era infinita. Comecei a subir alto, bem alto, querendo penetrar mais longe e mais fundo no céu. Um voo interminável, varrendo todas as direcções. Subitamente aterrei de novo dentro do meu corpo e desci até à ponta dos dedos das mãos e dos pés, e dei comigo ainda na cama, estendido, de olhos fechados. Toquei no meu corpo e senti a falta das minhas asas. Para onde tinham ido elas? Desperto de mim e, olhando para tudo o que me rodeava, percebo que a vontade alada e inatingível que saiu de todo o céu me entrou verdadeiramente para a alma. Nesta hora de sensações confusas abro asas mas não me movo. Voo lento dentro de mim...


(Não, não fumei nada hoje!)


a.r.T.

Elogio da Profanação


Nas minhas raríssimas (?) incursões pela noite assisto com deleite a um novo e extraordinário fenómeno de inversão de papeis: as mulheres ao ataque. Cínicas e perversas, mestres na arte da caça, as mulheres seguiram um novo caminho. Têm todos os direitos e nada têm a dar aos seus adoradores. Nada obriga-as a cumprir o seu dever para com eles nem a representar o seu papel no contrato natural entre os sexos. Quais deuses da antiguidade? A especial indisponibilidade que as reserva exclusivamente aos deuses celestes. Percebendo o seu poder, a mulher começou a recusar o que deseja e exige um pequeno espectáculo de horror antes de decidir qual o espécime que vai abocanhar. Quando não se dá o caso de querer apenas divertir-se com o digladiar de trunfos e rasteiras dos servos a seus pés. É preciso ver sangue na arena: garras de fora e mais uma presa à beira do precipício.

E os homens todos desesperados numa correria louca e desenfreada atrás das Cárites. É preciso avançar e conquistar seja como for e deixar os outros concorrentes para trás. «As minhas penas de pavão são mais bonitas que as tuas.»

Eu gosto de observar. Pelo menos não me sinto aborrecido. Rio-me das figuras dos outros. E no decorrer deste espectáculo as pessoas acabam por tirar a máscara. Ou colocam mais uma. É o jogo das aparências. Nada parece o que é e tudo se parece ao mesmo tempo com diversas outras coisas. É um fenómeno incrível, digno de ser contemplado com a crosta de banalidade evidente que os nossos olhos já se habituaram a ver. Uma coisa artificial, arranjada, levemente monstruosa, mas estranhamente divertida.

Contactos humanos banais que chegam às raias do absurdo.


a.r.T.

sábado, 13 de junho de 2009

Acho que pode ser ainda melhor...


Por um momento mesmo que não me consiga expressar, que dessa singular consciência nasça algo que nos consiga aproximar ainda mais...


A.r.t.

quarta-feira, 10 de junho de 2009


Hoje estou INSEGURANTE!

terça-feira, 9 de junho de 2009


Eu grito por ti. Mas tu não escutas.
Eu grito por ti. Mas tu ignoras-me.
Devolve-me o coração!


a.r.T.

Delírios Ébrios


Acordo com a boca a saber a álcool, seca como serradura, e uma dor de cabeça daquelas. Que ressaca! O whisky de ontem à noite era muito mau. E uma garrafa inteira... O que vale é que foi uma noite e tanto. Amigos, copos. Música, copos. E hoje esta maldita ressaca. Mas valeu a pena. Conversa fiada e copos. Olhares promíscuos e copos. Sorrisos trocados e mais copos. E lá se foi uma garrafa inteira de whisky. E depois outra e mais outra. Perdi a conta de quantas. Ai, que dor de cabeça! Corpos a dançar, palavras segredadas, o roça-roça... e a noite termina num quarto desconhecido, numa cama com uma desconhecida. Ou será que a conheço? Não me parece. Os dois completamente nus em cima da cama e eu com a tranca tesa como um cacete. Que fiz eu, ó Deus!?!?! Foi da garrafa de whisky martelado. Aquela mesma que me deu esta ressaca descomunal. Ela dorme que nem uma pedra. Deve estar tão anestesiada que não acorda com nada. Olhos redondos e escuros, boca escarlate e o rosto de um branco lívido contra um fundo de cabelos negros e encaracolados. Soubeste escolher ao menos! Levanto-me e abro a janela. Preciso de ar fresco. Dá para perceber que já é tarde: o sol vai alto e o movimento desenfreado. Mas afinal que faço eu aqui? Calma, mané!!! Saio do quarto e percorro a casa como se estivesse na maior escuridão. Não reconheço nada. Avanço decidido. Ao fim de várias tentativas acabo por encontrar a casa de banho. Lavo a cara e olho-me ao espelho. Que triste figura. Olhos raiados de vermelho, cara fúnebre. Pareço um estafermo. Respiro fundo e recupero um pouco. Regresso ao quarto para me vestir na maior fúria e rapidez. A rapariga continua a dormir. Quero desaparecer antes que acorde. Pé ante pé mergulho de um terceiro andar para a rua. Esta zona é-me familiar. Com o sol a ferir-me os olhos ponho-me em busca de um táxi. Ao fim de 15 minutos estou à porta de casa. Finalmente, o santuário. Tomo uma série de comprimidos e bebo uma garrafa de água na esperança que a ressaca acalme. Deito-me na cama e esforço-me para adormecer. Quero esquecer. Esquecer rapidamente. Porventura, isto terá sido um sonho e não saí sequer da cama. É melhor assim. Amanhã à noite será outra aventura. Quem sabe onde termina? Amanhã não bebo whisky. Vou beber vodka.


a.r.T.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Corro, corro para não mais parar...


Conheço-me pior do que penso mas não me importa. O Homem que sou olha para mim e diz que não me escondo e por isso, embora corra, não me escondo.


A.r.t.

sexta-feira, 15 de maio de 2009


Ontem andei à tua procura. Bati à porta do teu quarto mas não respondeste. Voltei à cama pela berma da madrugada na esperança de escutar ao longe os passos da tua respiração. Dói saber-te longe. Amanhã adormeço nos teus lábios ...


a.r.T.

Um certo deus do acaso
Juntou-nos no súbito apelo do amor.
E a partir de então, li nos teus olhos
Mágicos a exacta respiração da
Eternidade.


a.r.T.

domingo, 10 de maio de 2009

Sóchego?


"Quando não encontramos o repouso em nós próprios, é inútil ir procurá-lo noutro lado."
Autor: La Rochefoucauld , François

Borred as hell, é tudo aquilo a que reduzo este momento em que, entre outras coisas, o FCP se sagra Campeão e uns andam por ali e outros por além.

Se é inútil procurar um pouco de algo que não possuo por mim mesmo, resumo que ou não tenho grande coisa ou não sei dar valor ao que tenho. Inclinado para a segunda opção vou ver se me perco para ver se alguém me encontra.


A.r.t.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

A força do solo


Do abrir dos olhos e acordar até ao os fechar para ir dormir é sempre a partir do nosso ponto de vista que nos é dado agir ou interagir com os outros, mas aquilo que verdadeiramente somos é, em grande parte, uma importação - ou pelo menos possui elementos que já existiam mesmo antes de nós mesmos.

O que determina a forma ou vontade desses elementos em nos é por vezes dito se resumir a alma ou físico-química pelos menos em algum grau e se uma mente aberta é acima de tudo o movimento em si que antecede a acção ou seja aquela materialização da ideia que ainda antes de se iniciar, já está em nós reunido mas não concretizado. Se somos feitos das matérias já existentes e se possuímos coisas como ouro e carga eléctrica como parte do nosso todo é curioso que sejamos apenas uma diferente composição de algo tão antigo como os elementos que nos compunham e no entanto tão diferentes no modo de ser sem no entanto me parecer que sejamos capaz de ir além do que à partida já é tão imenso e grandioso. Talvez seja mesmo um ciclo do solo com algumas outras variantes de acção e isso não passe de um preconceito que tenho para com tudo e todos.

A.r.t.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Best Lap Time


Acabo de entrar na via de desaceleração que serve esta interminável auto-estrada do dia-a-dia sempre a 100/h, e já tenho em mente aproveitar para reabastecer e esticar um pouco as pernas e qui ça mesmo comer algo rapidamente enquanto leio um pouco ou vejo as noticias.

É que isto de andar sempre de um lado para o outro no limite e com a mente sempre a transportar cargas cada vez mais pesadas revela muito sadismo e masoquismo ao mesmo.

Até aqui nada de novo mas o tempo já nós deu exemplos de como somos capazes de inovar quando menos se espera e se por vezes só constatamos o que somos ou fazemos pelos resultados ou por elementos externos, este imposto ao consumo que pagamos por fazermos parte activa desta sociedade, anda hoje muito mal de saúde e moral, se o que pagamos durante a procura de nos concretizarmos é no fundo em parte resultante do que procuramos há que ter isso sempre em consideração embora eu ache que este crescente endividamento resulta de uma procura sem conta nem medida de um animal cego e muito burro que também se manifesta na nossa pessoa. Começo a ficar habituada a me transfigurar, e este ser sinistro que me torno pontualmente e que desperta alguma simpatia, não por ter perdido os traços que me define como ser Humano mas por ser capaz de transportar em mim a própria perdição anunciada e que não sendo aquela que é obvia e incontornável não deixa por vezes mesmo de ser resultado de plano maior, e que é comum a todos nós.

Os Heróis nas tragédias da antiguidade clássica trabalhavam tal e qual Hércules e calculavam as suas acções antecipadamente como um Zeus no monte Olimpo. Podendo até ser uma imagem interessante no entanto levou a concluir que ao mesmo tempo para precisar melhor as suas jogadas abdicaram de uma certa sensibilidade em nome de um maior rigor ou precisão e no entanto acho que começaram a se tornar claro que não se pode ir muito mais além sem que pelo menos alguma mudança significativa ocorre-se e essa mensagem, tendo chagado até nós, perdeu-se.

Se vivemos em tempos complexos onde a realidade já tomou uma dimensão que há muito ultrapassa a nossa capacidade de a assimilar e muito menos de a podermos operar como muitos pelos menos o ousam enunciar talvez haja a necessidade de pensar em uma mudança de mudanças. No entanto devido a transição de auto-suficientes e autónomos, passamos a ser interdependentes com laivos de egoísmo para nos conseguirmos distinguir dos demais.

Este exercício estilístico a que no fundo resumo o nosso egoísmo tal como o preço dos nossos pecados ou virtudes, não passa de algo que podendo ou não escapar, mas não deixa de ser apenas a camada de verniz que impede que a tinta estale e assim vamos mantendo tudo no lugar aparentemente a questão é qual é a importância do verniz no todo.

P.S Não acredito que a vida seja uma luta constante mesmo que isso não passe de uma metáfora para o trabalho, acredito sim que a vida obriga a muito trabalho mas não obstante o mesmo deve ser temperado com algo muito mais importante do que aquilo que de mais nobre habite nessa actividade humana profundamente funcional. Não de forma redutora trabalhadores com caprichos mas sim caprichos e muitas outras coisas mais que trabalham.


A.r.t.

terça-feira, 31 de março de 2009

Pensamentos na Sanite


Sentado no trono e enquanto leio um diário desportivo, fico com a impressão de que quando alguém se refugia neste paraíso moral de não ter a principio um juízo formando, no fundo reconhece que não passa de um eterno escapista "Nunca pensei acerca disso" ou seja lá a forma que isso tome, só pode ser a bem da verdade uma lacuna diplomática para lidar com uma qualquer dificuldade presente, com a qual se está confrontado e conformado ou uma hipocrisia de cara tão deslavada que até mete nojo.

Ainda pior é ter presente que até poderia ser um óptimo inicio de conversa, mas dita a regra que seja o fim da mesma tal e qual um balde de merda e mijo sobre uma mesa farta, digo isto pois na minha "nada" modesta opinião a ignorância alimenta-se de duas coisas, ou de nós o que resulta numa barriga farta de miséria ou numa partilha aberta e franca com o outros.

Acho então que o grande responsável começa por ser esse reconhecimento inglório do que alguns ousam chamar intimidade e eu apenas descrevo aqui como o imenso vazio de possuir algo que não se utiliza ou que simplesmente se instrumentaliza a gosto dos caprichos a que todos nós somos sujeitos. E por também sermos muito conscientes quanto ao nosso lado menos luminoso estar presente sempre a coca do momento certo para agir ou nada fazer, é que nada fazer as vezes resulta ainda melhor como acto de desconstrução do que o próprio acto de desconstruir, perde-se algo ali que seria deveras interessante um dia se ver, que leitura a ciência faria desse acto tão comum no ser Humano.

Enfim o alivio resultante de desempenhar uma parte do todo que é este ciclo de comer e cagar, e que resulta em dois enormes prazeres: um que é o de comer algo delicioso e outro que passa por soltar a tripa sem contenção. É deverás criativo no mínimo e só assim se compreende que tanta merda salta da nossa sanite e da sanite alheia e borre o azulejo das casas de banhos públicos e todos aqueles lugares onde nos recolhemos todos nós mais tarde ou mais cedo, com maior ou menor vigor.

Dou vivas a todos os movimentos ortocólico, gastrocólico e os demais estímulos que ajudam a eliminar tudo aquilo que não absorvemos e que alguns teimam em expulsar de si mesmo sem nada na barriga.

P.S.- A merda não é vilã, e se alguns até a tratam por desconhecida é porque no fundo reconhecem que é infelizmente ou felizmente a graça daquilo com que de mais saudável ousa contribuir para a sociedade.

A.r.t.

Elogio ao "O Elixir do Pajé"


Devo por bem transcrever uma enorme verdade de Bernardo Guimarães :

"Que tens, caralho, que pesar te oprimeque assim te vejo murcho e cabisbaixosumido entre essa basta pentelheira, mole, caindo pela perna abaixo?

Nessa postura merencória e tristepara trás tanto vergas o focinho, que eu cuido vais beijar, lá no traseiro, teu sórdido vizinho!

Que é feito desses tempos gloriososem que erguias as guelras inflamadas,na barriga me dando de contínuotremendas cabeçadas?

Qual hidra furiosa, o colo alçando, co'a sanguinosa crista açoita os mares, e sustos derramandopor terras e por mares, aqui e além atira mortais botes, dando o co'a cauda horríveis piparotes, assim tu, ó caralho, erguendo o teu vermelho cabeçalho, faminto e arquejante, dando em vão rabanadas pelo espaço, pedias um cabaço!

Um cabaço! Que era este o único esforço, única empresa digna de teus brios; porque surradas conas e punhetassão ilusões, são petas, só dignas de caralhos doentios.

Quem extinguiu-te assim o entusiasmo? Quem sepultou-te nesse vil marasmo? Acaso pra teu tormento, indefluxou-te algum esquentamento? Ou em pífias estéreis te cansaste, ficando reduzido a inútil traste? Porventura do tempo a destra iradaquebrou-te as forças, envergou-te o colo, e assim deixou-te pálido e pendente, olhando para o solo, bem como inútil lâmpada apagadaentre duas colunas pendurada?

Caralho sem tensão é fruta chocha, sem gosto nem cherume, linguiça com bolor, banana podre, é lampião sem lumeteta que não dá leite, balão sem gás, candeia sem azeite.

Porém não é tempo aindade esmorecer,pois que teu mal ainda podealívio ter.

Sus, ó caralho meu, não desanimes,que ainda novos combates e vitóriase mil brilhantes glóriasa ti reserva o fornicante Marte, que tudo vencer pode co'engenho e arte.

Eis um santo elixir miraculosoque vem de longes terras, transpondo montes, serras, e a mim chegou por modo misterioso.

Um pajé sem tesão, um nigromantedas matas de Goiás,sentindo-se incapazde bem cumprir a lei do matrimónio, foi ter com o demónio, a lhe pedir conselhopara dar-lhe vigor ao aparelho, que já de encarquilhado,de velho e de cansado, quase se lhe sumia entre o pentelho. À meia-noite, à luz da lua nova, co'os manitós falando em uma cova, compôs esta triagade plantas cabalísticas colhidas, por sua próprias mãos às escondidas.

Esse velho pajé de pica mole, com uma gota desse feitiço,sentiu de novo renascer os briosde seu velho chouriço!

E ao som das inúbias, ao som do boré,na taba ou na brenha, deitado ou de pé, no macho ou na fêmeade noite ou de dia, fodendo se viao velho pajé!

Se acaso ecoandona mata sombria, medonho se ouviao som do borédizendo: "Guerreiros, ó vinde ligeiros, que à guerra vos chamaferoz aimoré", assim respondiao velho pajé, brandindo o caralho ,batendo co'o pé :- Mas neste trabalho, dizei, minha gente, quem é mais valente, mais forte quem é? Quem vibra o marzapocom mais valentia? Quem conas enfiacom tanta destreza? Quem fura cabaçoscom gentileza?"

E ao som das inúbias, ao som do boré, na taba ou na brenha, deitado ou de pé, no macho ou na fêmea, fodia o pajé.

Se a inúbia soandopor vales e outeiros, à deusa sagradachamava os guerreiros, de noite ou de dia, ninguém jamais viao velho pajé, que sempre fodiana taba na brenha, no macho ou na fêmea, deitando ou de pé, e o duro marzapo, que sempre fodia, qual rijo tacapea nada cedia!

Vassouras terríveldos cus indianos, por anos e anos, fodendo passou, levando de rojodonzelas e putas, no seio das grutasfodendo acabou! E com sua mortemilhares de gretasfazendo punhetassaudosas deixou...

Feliz caralho meu, exulta, exulta! Tu que aos conos fizeste guerra viva, e nas guerras de amor criaste calos, eleva a fronte altiva; em triunfo sacode hoje os badalos; limpa esse bolor, lava essa cara, que a Deusa dos amores, já pródiga em favores hoje novos triunfos te prepara, graças ao santo elixir que herdei do pajé bandalho, vai hoje ficar em péo meu cansado caralho!

Sus, caralho! Este elixirao combate hoje tem chamae de novo ardor te inflama para as campanhas do amor! Não mais ficará à-toa, nesta indolência tamanha, criando teias de aranha, cobrindo-te de bolor...

Este elixir milagroso, o maior mimo na terra, em uma só gota encerra quinze dias de tesão...Do macróbio centenário ao esquecido mazarpo, que já mole como um trapo, nas pernas balança em vão, dá tal força e valentia que só com uma estocada põe a porta escancarada do mais rebelde cabaço,e pode em cento de fêmeas foder de fio a pavio, sem nunca sentir cansaço...

Eu te adoro, água divina,santo elixir da tesão, eu te dou meu coração, eu te entrego a minha porra! Faze que ela, sempre tesa, e em tesão sempre crescendo, sem cessar viva fodendo, até que fodendo morra!"

Admirável Mundo Velho ;)


A.r.t.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Torre Vã


Por vezes apetece-me perder-me. Ausentar-me durante horas, entrar num mundo vácuo, e descobrir uma torre vã perdida em frente ao mar. A ruína de uma antiga fortaleza que, como um sentinela adormecido, ali perdura num passo sonâmbulo e estático. Um espaço vazio com apenas uma porta para um promontório onde se pode adivinhar o mundo. E então, olhar o céu e emocionar-me. Sem medos, sem condições, espalhar ao mundo a minha vida interior, e num encanto celestial ouvir um murmúrio perpétuo – como se as estrelas falassem, conspirassem entre si.


a.r.T.

Uma Página de Escuridão


Ultimamente, nada parece interessar-me. Aliás, a única coisa que me interessa é o facto de não conseguir interessar-me por nada. Desde há algum tempo tenho andado sob a influência de estados de espírito de diversas formas e feitios que me fazem cair no esquecimento e que se abatem sobre mim como uma tempestade. Pesadelos recorrentes que selam um pacto eterno com o silêncio. Um peso que aperta a garganta. Parece que fui feito prisioneiro numa qualquer sela de um hospital de psiquiatria, secção psiconevroses. Desorientado, alienado. Em fúrias descontroladas passo as mãos pelos cabelos curtos e emaranhados e temo levantar voo a qualquer momento.

Só pouco a pouco começo a emergir para qualquer coisa vagamente parecida com a realidade. Lentamente vou arrumando ideias embaciadas e limpando cacos antigos do meu espírito. Libertar-me, no fundo, de velhas sombras que não devem mais estar lá, enquanto o espectro das hipóteses causais se dissolve.

E assim, no correr vazio de horas sem fim sento-me na cama, de pijama vestido, a embalar um copo de conhaque e a ver a cinza do cigarro a encaracolar na ponta. Pensativo, procuro uma razão, uma explicação e ali permaneço como sonâmbulo, remoendo sobre um assunto que tenho de polir para sempre para que continue a brilhar.


a.r.T.

Desejo e des(t)alento


Sei que enfermo de não saber dizer, e definir em palavras, o que sinto. Penso constantemente em dar forma, em expressar os sentimentos e pensamentos que dominam a minha vida interior. Sinto uma voz inconformada a tomar forma dentro de mim e procuro escutá-la. Mas custa-me encontrar a maneira exacta, a roupagem certa, para transmitir aquilo que esta voz íntima tem a dizer. O meu talento é demasiado boçal. Tenho tanto para dizer mas tão pouco dom.

E assim triste e só por não partilhar, vou sobrevivendo às minhas horas exaustas.


a.r.T.

terça-feira, 17 de março de 2009

Intermitências ou Dormências ?


Torno confuso a seguinte ideia à medida que o dia passa: oiço sempre falar em fases e momentos e fracções e partes e na necessidade de separar os elementos que constituem um todo para o melhor compreender, mas no entanto todas aquelas subidas e descidas que temos no decorrer da vida, independentemente do grau de inclinação ou duração, deveriam ser fáceis de compreender

Não deixo de pensar que isso possa ser apenas um capricho a que a nossa interpretação nos sujeita por ela mesmo ser também uma parcela. A interpretação faz com que uma mesma realidade posteriormente deixe não só de ser o que era, como ganham forma aspectos que às vezes até contradizem aquilo que já fora à partida. Fico então curioso relativamente a essa capacidade racional da interpretação que, sendo uma ferramenta, possui um preço muito alto na sua utilização, e que acima de tudo assenta na capacidade de destruir tudo aquilo que constrói ou toca por um simples capricho.


A.r.t.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Traumatismos Ideológicos


O tempo voa. O tempo voa e é certo que certas pessoas também são mais dadas a voar do que outras. Mas independentemente disso acho que é recomendável um pouco de cautela nessa actividade radical de altos voos, pois para além de requerer muita ginástica mental como base de preparação é preciso controlar as excitações resultantes do simples facto de tirar os pés do chão ou de olhar para o céu e sentir toda a vertigem desse imenso espaço - mesmo com a ajuda que algumas boas companhias aéreas nos dão para mitigar esses efeitos. Todavia, aquele friozinho na barriga a que muitos chamam cagufa, miufa, medo, receio ou seja lá o que for que nos faz dispar todos os alarmes, não é hoje para aqui chamado.

Não quero saber do antes, do durante ou do depois. O que hoje venho aqui relatar aconteceu como uma simples resposta ao reflexo de ter fechado os olhos; e se tem a ver com a capacidade de voar em si mesmo ou não, não sei. Embora haja que ter em conta que se isto fosse uma questão então essa mesma residiria em ter de ir além ou ficar já aqui mesmo. Tretas à parte, o que pretendo mesmo é dizer que hoje dei um salto e me esmerdalhei todo no chão. Nada de cenas a Ícaro, não teve nada de épico ou fora do comum, nem tão pouco desconhecido da maioria, foi mais um daqueles saltos do género que a Heidi nos presenteava enquanto ia pelos Alpes a passear completamente distraída. Num instante dei comigo com uma tremenda dor nas partes baixas sem sequer aperceber-me que vinha a dormir de olhos abertos. Tal e qual um qualquer animal de rebanho aparado pelo efeito de grupo sem ter em conta a tremenda ilusão que isso às vezes representa: a vida sabe escolher muito bem a quem deve abrir os olhos em dado momento, acho eu... Enfim, lá me levantei e ainda um pouco dorido agradeci o facto da gravidade ter sido meiga comigo e o meu dormitar não me ter levado a ousar, de forma inconsciente, a ter subido mais alto para tão amargo desfecho. É que hoje senti-me um camionista de um TIR que de volta para casa, depois de 3.000 km, espeta-se numa recta curvante a 1.5 km de casa, sem ter dado por nada e em que apenas o orgulho "chapa" acusou o transtorno de ter batido nos railes. É que nem sequer dai resulta nada de verdadeiramente significativo além de um enorme warning: acorda que o tempo voa e tu andas nele bem montado.

A.r.t.

sábado, 7 de março de 2009


sinto os nossos corações baterem
ao mesmo ritmo
vejo o clarão do desejo singrar
em nossos olhos cegos
e na cadência deste amor
vamos construindo um paraíso
de preciosas essências

a.r.T.

quarta-feira, 4 de março de 2009

! Só(u) Louco ?


Começo com um tributo a Gal Costa e Dorival Caymmi e a musica é Só louco:

"Só louco
Amou como eu amei
Só louco
Quis o bem que eu quis
Ah! Insensato coração
Por que me fizeste sofrer?
Porque de amor
Para entender
É preciso amar
Porque...
Só louco...
Só louco... "

E queria ainda acrescentar que acho necessário não só querer esse bem como dizer que só mesmo um louco o recusa e tenta ser feliz.

segunda-feira, 2 de março de 2009

O circo das bestas...e dos cordeiros


Acabei de ver um vídeo de um animal a ser esfolado vivo, tanto quanto o meu organismo me permitiu. Não é sadismo da minha parte, mas gosto de levar estas "chapadas" de vez em quando. Fazem-me bem. Ainda enjoado e a tentar colocar as emoções e ideias no lugar não consigo evitar as perguntas e inquietações que vêm ao de cima. Talvez a primeira tenha sido se isto se passa num outro qualquer planeta ou galáxia. A resposta é óbvia. Impossivel. Nao existe vida, que se saiba, para além do nosso planeta azul, muito menos na forma que a conhecemos. Não. Acontece aqui mesmo, neste belo planeta (pelo menos visto de uma distância que induza a falta de acuidade e, consequentemente, a camuflagem das inumeras marcas e cicatrizes, físicas e emocionais, que o nosso espécime lhe vai infligindo - convém-nos que assim seja). Acontece aqui mesmo “ao lado”, no país de onde vêm as grandes tecnologias e as lojas dos trezentos. Vejo isto e lembro-me destas e de muitas outras atrocidades, mais do que sabidas, que passam pelos olhos e ouvidos dos demais com uma impunidade sórdida, como que se de uma qualquer ficção macabra se tratasse, e que me fazem questionar em que espécie de circo vivemos. Não consigo parar de pensar que aqueles que se dizem humanos, com sentimentos e valores, mas que viram as costas a estas injustiças espalhadas pelo mundo para viverem no seu comodismo, na sua comodidade, não são mais do que cúmplices em diferentes graus. Existem seres, ditos racionais, capazes das maiores atrocidades, inigualáveis no restante mundo animal, feitas de coração vazio, sem qualquer justificação senão a de um egoísmo e ganância atrozes. Deixamo-nos conspurcar por estes ditos seres humanos e nada fazemos, tornamo-nos irracionais como eles quando apenas nos preocupamos com o que nos afecta a nós e ao nosso pequenino mundo, com o que afecta as nossas pretensões. Vivemos numa sociedade onde se cultiva apenas as metas pessoais, onde é aceitável preocuparmo-nos só connosco, onde, se seguirmos à risca os seus desígnios, nos tornamos “gente”. Assumimos então o papel que nos foi entregue neste “mundinho” sem nos questionarmos, quais fantoches: o IRS aumenta todos gritam, o Benfica perde todos choram, é carnaval todos sambam, e a miséria e a injustiça espalhadas pelo mundo ninguém vê, não é seu problema. Calam-se as vozes. Baixam-se os braços. Tudo continua bem. Ainda são o Sr. Engenheiro ou a Sra. Doutora. Ainda levam os filhinhos à escola no “seu” carro importado e vão à Igreja Domingo de manhã tentar compensar a merda que fazem durante o resto da semana, apaziguar a sua consciência, não vão perder o seu lugarzinho no céu (até mesmo para isso vão pelo caminho mais fácil). Estão errados? Não. Assim foram ensinados, desumanizados, acovardados. Mas pouco me impressionam ou merecem a minha admiração. Morremos de medo dos AVCs e papamos anti-depressivos como tremoços, mas insistimos em continuar. Não temos tempo para nos apercebermos que algo está mal, para pensar naqueles que não tiveram ou têm a nossa sorte e tomar uma posição activa nestas questões, para procurar um novo sentido de estar vivo, para lá das nossas muralhas. Mas não me cansarei de dizer o que penso, não me calarei. Tenho a esperança de quem acredita que uma nova consciência ganha forma nas novas gerações.

a.R.t.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Passear o Tédio


Pois é, hoje levei o Tédio a passear para aproveitar o sol que tem feito e que já ouvi dizer ser de pouca dura. Mas como já era de esperar e é característico o sacana voltou a deixar as suas cagadelas e mijadelas aqui e ali só para se fazer notar pelos demais mortais. É que isto de ter um animal de estimação tão impulsivo e frustrado tem o seu encanto, mas calma aí. Chega a ser engraçado ver o fruto dos seus caprichos e birras e mesmo alguns esperneares; ou mesmo a forma como ele arrasta aquele corpo dengoso e flácido num gingado que perpetua a máxima "quem nasce lagartixa não cresce para se tornar jacaré". O pior mesmo é que, nem bem alimentado e com todos os seus caprichos satisfeitos, o bicho não deixa de ter aquele temperamento que se não mata pelo menos desmoraliza todos aqueles com quem convive e partilha o espaço e tempo para se manifestar na sua mais profunda natureza sem nenhuns remorsos. Talvez não tenha sido boa ideia ter adoptado este animal de estimação, pois embora não tenha pulgas nem coma muito, acaba por ter um cio nada previsível e muito prolongado. Talvez eu devesse ter optado por um lindo aquário com peixes. Afinal sempre dava para afogar as mágoas de um verão que tarda mas não tem falhado muito.


A.r.t.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Amigos quem os quer?


Amigos!?!? Para que servem? Para nos chatearem a altas horas da noite com os problemas deles, como se os nossos já não bastassem; para nos fazerem gastar dinheiro nos jantares de aniversário e em prendas inúteis mas obrigatórias nas celebrações; para termos que fazer aqueles telefonemas da praxe: «é só para saber como estás»; para nos virem com a lamechice do costume naqueles momentos mais ébrios; para recordar os momentos passados de uma juventude desvairada. É para isso que servem os amigos? Então dispenso-os a todos. Sem excepção.

Para me fazer companhia compro um cão. Pelo menos tenho a certeza de que não abandonar-me-á quando necessitar dele. Não me vai dizer, seguramente: «se a minha namorada me deixar eu vou jantar contigo» ou «hoje dá o Benfica na tv e eu quero ver». O cão não trocar-me-á por uma namorada qualquer, daquelas que vêm e vão, ou por um mísero (e já agora, execrável) clube de futebol.

Amigos destes tenho muitos. Mas os bons amigos resumem-se ao núcleo de um átomo: um protão e um neutrão. Uma parte tão reduzida, tão ínfima que deve ser preservada como se parte de mim se tratasse. E destes não desisto eu.

Os outros lá vão. Caras conhecidas pelas quais passamos na rua e fazemos um pequeno aceno de cabeça. Gente tão desconhecida como o sapateiro lá do bairro. E assim, como um castelo de cartas, os laços soçobram e ficam os escombros de memórias longínquas.


a.r.T.

Ontem, a cem passos de distância, conseguia-se ouvir o som de litros de Super Bock a gorgolejar dentro da minha barriga. Hoje, não sei porquê, tenho uma terrível dor-de-cabeça. Deve ser da espuma da cerveja.  


a.r.T.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Ouves o murmúrio do amor?


Tu. Nada mais. Tenho ciúmes de tudo o que se move em teu redor, de tudo o que te toca. Tenho ciúmes até da chuva que te molha. Um sentimento sufocante, cúmplice de uma loucura que me cega. Por vezes ustório. Queima e num intenso braseiro transforma em cinzas tudo aquilo que fantasio.

Seres minha, eu ser teu. Será isso condição? Dar-me, entregar-me, ter-te, possuir-te. Sermos um só. Beijar o teu corpo nu. Mergulhar em ti e afogar-me profundamente. Tocar-te com dedos de devaneio. Perder-me contigo em lençóis de fantasia. Ser prisioneiro das tuas mãos.

Neste quarto estreito, sonho e perco-me. Sinto-me, por vezes, a afastar da realidade em que estou e voar para junto de ti. Infelizmente sei que não é mais do que uma vontade alada que tem uma longa corda atada aos pés, que ao tornar-se consciente faz-me regressar num ápice à triste realidade. E então, sinto-me um tolo por sentir. Dá-se em mim um nó que não mais se desata. E sem reacção sufoco, preso em barras de ilusão.

Vem ao meu encontro e deixa-te ficar... ou então deixa-me. Deixa-me como sou. Como queria ser. Como nunca serei.


a.r.T.

Já não há pessegueiros no caminho!


Mais uma noite perdida. Em branco. Penso em tudo. Estou aqui desde as duas da manhã e tudo o que fiz foi limitar-me a ouvir o silêncio da noite e perder-me em pensamentos. Ando de um lado para o outro. Páro. Deixo-me ficar quieto. Nada. Nem sono nem calmaria, apenas fúrias desenfreadas... Com lentidão acalmo e entorpeço-me. Uma realidade-outra surge.

Arrasto-me lentamente pelo chão e saio do quarto furtivamente. Encosto a porta atrás de mim. Saio de casa e enfio-me numa jangada a navegar rio afora empurrando-me em direcção ao mar. O nevoeiro serpenteia o alvo litoral nos primeiros alvores matinais. Deito a mão ao mar procurando tocar a espuma das ondas. O vento frio de um dia por nascer. O canto breve das gaivotas. Que sensação! Parece que deixei o meu corpo para trás por um tempo. Já não há pessegueiros no caminho. Parece que estou num deserto. Mas ainda agora neste jardim havia flores de todas as belezas!

Raiam na minha atenção vagos e dispersos ruídos. Oiço agora, distintamente, os passos de alguém sobre a madeira do chão. A luz acende-se arrancando de dentro de mim aquele sonho. Sou todo confusão. Estou de volta ao meu quarto com vista para a desolada rua.

Sei que despertei e que ainda durmo. Entre o sono e a vigília o meu corpo cansado diz-me que ainda é cedo. Volto a enfiar-me por debaixo dos lençóis esperando que a escuridão confirme que nada daquilo estava a acontecer.

Deixo para mais tarde pensar em tudo isto quando estiver mais desperto. Talvez, então, faça mais sentido.


a.r.T.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Dia de Chuva


Neste dia de chuva, aqui sentado à janela a ver o mundo passar, sinto falta do sol. Dos raios de sol dourados, do céu azul e das nuvens brancas. Dias de sol que sabem-me ao que não tenho. Capítulos de chuva que duram há quotidianos da minha vida e que trabalham lenta e profundamente sobre o meu espírito. Neste estranho e oco dia de sombras dá-se em mim uma suspensão da vontade, da emoção. O meu pensamento fica sereno e a vontade é substituída pela calma e apatia. Fico num estado de espírito maior que me prende nesta letargia. Silencioso e isolado. Nada de novo na minha alma, apenas sensações melancólicas coladas umas às outras. E assim, meio-morto nesta minha prisão em que me sinto, vivo na saudade de ter de volta o sol. A saudade que traz o gosto perdido de um dia de Verão.

Hoje o meu coração veste-se de negro.


a.r.T.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009


Estou cheio de frio. Vou estender-me na cama e fingir que repouso, pois nesta hora absurda tudo é um sonho vão.


a.r.T.