segunda-feira, 27 de julho de 2009

Ficções da minha imaginação


Sinto-me mais à vontade no mundo fictício que criei para mim mesmo do que no mundo do real. A vida das minhas emoções mudou-se para as salas da imaginação e assim passo detalhes de uma vida suposta. Abri uma nova estrada à fantasia e agora sou um estrangeiro na realidade. Calo-me e retiro-me para a região da imaginação, o pais longínquo da fantasia, donde sou natural e onde me sinto à vontade. De quando em quando faço uma incursão rápida, atrevo-me a atravessar a fronteira que separa o meu mundo privado do mundo dos factos ordinários. Transeunte eterno entre aqui e acolá.

À noite, às vezes, com a casa quieta, aconchegado no sofá vou ver os barcos a partir e a chegar no Tejo. Fico a observá-los, atento ao pormenor da navegação, e logo salto para o convés de um veleiro, levanto âncora, solto as amarras, giro a roda do leme dentro de mim, quilhas, mastros, gáveas e velas içadas, e o veleiro larga do cais. Parto em direcção ao mar, por aí afora, pelas ondas... Sinto, e sentindo isto entrego-me mais, os lábios salgados pela espuma arremessada pelo vento, o cheiro da maresia, o sol e ar marítimo curtindo-me a pele, o marulho da água de encontro ao casco cantando-me ao ouvido.

Mas eis que acordo deste meu oceano interior, abro os olhos que não fechei, e o rio tão próximo esfumaça-se como o fumo dum vapor no mar alto. Estou longe do marinheiro que fui há momentos.

Por isso gosto de me perder nas áleas e avenidas da minha imaginação, nos cais e estações do meu devaneio, bastando-me para tanto fechar os olhos na eterna insaciabilidade dos meus sonhos perenes.


a.r.T.

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