sexta-feira, 17 de julho de 2009

«Quis Saber Quem Sou, O Que Faço Aqui...»


Pergunto a mim próprio um sem número de vezes por que razão a minha vida tomou a forma e o rumo que tomou. Por que me tornei eu um empregado de escritório? Um administrativo, administrador de papéis e faxes, gestor de resmas de correspondência, atendedor automático humano de chamadas, agrafador compulsivo de contas alheias... Por que vivo sozinho neste apartamento minúsculo? Império de um César caído, sem espaço para ter uma mesa e cadeiras para receber os amigos que não tenho, para por o piano de cauda que não sei tocar, sem uma porta por onde fugir numa possibilidade de desabamento do tecto de astros... Por que sou assim, frio e ausente? Um ser frágil, de corpo envenenado. E por que razão penso em tudo isto agora?

Irrequieta-me pensar nisto, perco o sono, fico exausto e descontrolado. Sou como sou. Sou quem sou. Sou. Mas quem sou eu afinal? E por que serei eu assim? Será que cheguei aqui depois de ter entrado por um qualquer caminho errado ao longo da vida? A nossa vida, afinal, é definida por oportunidades, mesmo aquelas que perdemos. Se tivesse feito opções diferentes ao longo da vida seria eu muito diferente daquilo que hoje sou?

A vida é para nós aquilo que concebermos nela. Eu esculpi a minha vida como se de um sonho inacabado se tratasse. Uma vida que nunca chegou verdadeiramente a sê-la. Em sonhos consegui tudo, mas na vida vivida não sou mais que uma sombra de porcelana daquilo que sempre quis ser. Quero ser tal qual quis ser e não sou.

De que vale pensar nisto se a minha vida afinal é mais que isto? Hoje acordei sereno, demasiado sereno para estar bem. Demasiado fraco para me deixar abalar por interferências existenciais. Sinto-me a encolher dentro da cama de lençóis frios. Dói-me a cabeça. Dói-me o corpo. E devagar extingo-me, devagar... Deixo-me ficar deitado sem me mexer. Faço um esforço para me levantar, mas o dia não promete mais que um rol de perguntas inúteis.



a.r.T.

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