sexta-feira, 26 de junho de 2009

Coisas para partilhar...


O Mar e o Céu lá continuam a namorar eternamente. Oh, como é bela a imagem numa coisa que ouso apenas definir como o mais profundo platonismo possível de constatar de olhos abertos! No entanto, nem mesmo as nuvens, ou seja lá o que for que exista e que ouse interferir nessa composição, se mostra capaz de ir além de uma breve interferência naquela interminável relação de factores paisagísticos. E como seria triste um mundo sem o belo!

E imagino até que, mesmo quando daqui a muito tempo um dos dois cesse de existir, o outro deixará seguramente de ter alguma relevância verdadeiramente. Digo mesmo, não sou capaz de supor melhor relação do que essa, no sentido que faço da natureza desses dois elementos. Dai eu concluir que uma certa distância até pode ser em certa medida uma mais valia, mas não é seguramente aquilo que preenche o individuo numa relação, como também, salvo excepções, o dito platonismo nunca concretiza uma verdadeira interacção entre elementos que aos meus olhos tão bem se conjugam.

O Azul tem algo que me apazigua. E o sentimento que retiro de constatar o horizonte é para além de uma imensa liberdade e uma infinidade de possibilidades em aberto que lá cabem. Talvez esteja só a sonhar de olhos abertos, mas para mim essa linha imaginária é, acima de tudo, um sentimento que se materializa sempre que a retina olha um pouco mais longe do que é necessário.


A.r.t.

quinta-feira, 25 de junho de 2009



Na tranquilidade da noite florescem por detrás desta janela indiscreta luzes sem fim. Tudo na cidade que daqui vejo reflecte a luz das ruas e sobe para ferir vagamente os meus olhos vidrados. Fico em silêncio a observar com emoção. Uns minutos. Creio que não penso em nada. Agrada-me um pouco de vazio e nada. Participar da noite e do silêncio. Apenas um fio invisível liga-me ao que se passa lá fora deste falso privilégio de altura.

Num sobressalto de consciência, a recordação amada cresce em torno de mim e traz-me de volta. Por que não estás aqui para me consolar da insuportável tristeza desta magnifica noite que se vê do lado de fora da minha janela? A escuridão luarenta do céu, os diversos tons de cores dos candeeiros acessos, um corpo indistinto, as sombras murmurantes, os ruídos sibilantes que irregularizam esta imagem irreal. Tudo isto me dá vontade de explodir em ânsias! Não é somente esta paisagem. São os meus braços que oscilam pendentes, a minha mão enquanto escrevo, os meus ombros cansados, a poltrona que vai levantar voo a qualquer momento, o meu rosto reflectido no vidro quase fosco da janela. A vontade de te ter de novo...

Sem ninguém, abro a janela para dentro de mim e esqueço-me desta paisagem interior que se esfumaça. Quem me dirá as palavras inauditas que gostaria de ouvir no silêncio que vem da luz declinante?

O meu coração já não está onde o deixei.



a.r.T.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Perdem-se Para Alguém as Encontrar...


Uma vez que entram em Cena sabe-se logo aquilo a que vêm e não há volta a dar à questão. Observo à distância e sinto a intensidade da sua presença e do quanto pode ser poderosa a envolvência criada pela mesma. E, embora nunca deixe de pensar que há sempre a possibilidade de escolha, reconheço a facilidade em nos deixarmos cair na tentação de alinhar no jogo.

Seja como for tenho alguma admiração secreta por essa capacidade de potencializar algo tão simples como a atracção entre os géneros. Mesmo quando estou próximo o suficiente para sentir toda a dimensão desse estar e ser que condiciona e tolda toda a nossa razão, e nos leva a seguir os ritmos primordiais das pulsões que existe entre ser presa ou predador, penso que devo ser retorcido como o camandro, pois regra geral os meus fusíveis de segurança disparam e eu tenho nesse instante uma oportunidade de observar a realidade de dentro do olho do furacão em plena acção: é uma cena entre o cagaço e o total "I AM THE BEST", pois embora saiba que me permite recuperar alguma da dignidade de dizer sim ou não, se isso for verdadeiramente o que pretendo, não deixa também de ser uma defesa de muitos anos de evolução como presa. Adoro essa sensação de observar as coisas nos olhos e saber que na verdade das verdades há algo mais forte do que a simples vontade de um querer, e quando sinto esse arrepio dou graças a Deus por existirem coisas mais intensas do que o simples beber copos e trocar ideias entre amigos e amigas ou mesmo o acto mais puro e duro de entrega entre o homem e mulher. É que para mim esse instante em que os olhos se cruzam e a mente sabe que tudo pode acontecer é, sem duvida, efemeramente perpétuo ou perpetuamente efémero. Não interessa, eu curto essa onda.

Ah, queria também dizer a todas as Dirty Diana's do mundo que embora não seja essa a minha onda sou fã da vossa máxima : "- Não ele não vai dormir em casa, porque hoje ele vai dormir comigo".


A.r.t.

Sonha comigo acordada. Sonha comigo a dormir. Sonha comigo em sonhos sonhados. Sonha comigo nos intervalos em que o sonho te foge. Sonha comigo. Tanto me basta!


a.r.T.

Cabeças Há Muitas...


Andam muitos a festejar o São João mas no fundo todos eles não passam de uns masoquistas que gostam de levar com o martelo nos cornos e continuar a passear anestesiados com a restante manada por ruas pejadas de gado enquanto comem sardinhas no pão e entornam uma qualquer carga etílica bucho abaixo.

Já chega de levar nos cornos, está mesmo é na altura de começar a retribuir o favor a todos aqueles que durante os restantes dias o fazem sem ser com o martelo de plástico e que, no entanto, não se sentem menos à vontade para martelar no crânio alheio - sem esquecer aqueles que não merecem marteladas mas sim uma valente poda nos galhos que lhes saem da testa nessa também modalidade de masoquismo chamada de «Corno».

A todos os demais floreados e berloques que possuam na testa ou qualquer parte do crânio um enorme bem haja e cuidado com o sol, usem chapéus!


A.r.t.

terça-feira, 23 de junho de 2009

De Onde Vem e Para Onde Vai Todo Este Calor ?


Às vezes parece ser do espaço exterior outras vezes de alguma pulsão interior, seja como for, mal começa e já sei à partida que é coisa temporária. Bom mesmo é que o dito tenha casa própria pois isso de andar a saltar de fora para dentro e de dentro para fora acaba por pedir mesmo um lugar onde ele esteja em casa. Por agora aluguei-lhe um quarto em mim...


A.r.t.

Baixinho o murmúrio da ausência
atormenta a doçura do sonho.
Mas a lembrança dos
teus lábios, numa
torrente de beijos,
desperta-me do torpor
e conquista-me de novo.

És o meu pedacinho de sonho.


a.r.T.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Ideias de Facto


Visto o olhar com a vertigem do sono, calço um ou dois copos bem cheios e corro para a rua antes mesmo de ser a hora marcada. Oh pá não te armes em cavalo de corrida que sinto a sela a deslizar dorso a baixo, tenho mesmo é que apertar o cinto. Oiço o vento e aquele silencio diz-me que mesmo antes de levar com o ar fresco da noite, o desastre espera-me e o seu acidentado amigo, que tarda mas não falha, meto a mão no bolso e vejo que trouxe de facto comigo pouco mais do que ideias, mas não faz mal hoje gasto menos amanha gasto mais, haverá um dia certamente mais selva do que animais ?


A.r.t.

Mioclonias do Adormecer


Um grande amigo meu tem, recorrentemente, um sonho em que voa. De repente levanta voo, qual avião, qual super-homem, e começa a percorrer os céus. Até que, numa vertigem inesperada, tem que se agarrar a um poste com medo de cair. Acorda e cisma durante horas.

Esta noite sonhei com algo semelhante. Num instante estava deitado na minha cama e noutro estava a voar. Ganhei as capacidades de um pássaro, voando sob o céu laranja e roxo. Rajadas de vento enrolavam-se à volta das minhas asas ateando um fogo que parecia irromper em labaredas. A amplitude das minhas acções era infinita. Comecei a subir alto, bem alto, querendo penetrar mais longe e mais fundo no céu. Um voo interminável, varrendo todas as direcções. Subitamente aterrei de novo dentro do meu corpo e desci até à ponta dos dedos das mãos e dos pés, e dei comigo ainda na cama, estendido, de olhos fechados. Toquei no meu corpo e senti a falta das minhas asas. Para onde tinham ido elas? Desperto de mim e, olhando para tudo o que me rodeava, percebo que a vontade alada e inatingível que saiu de todo o céu me entrou verdadeiramente para a alma. Nesta hora de sensações confusas abro asas mas não me movo. Voo lento dentro de mim...


(Não, não fumei nada hoje!)


a.r.T.

Elogio da Profanação


Nas minhas raríssimas (?) incursões pela noite assisto com deleite a um novo e extraordinário fenómeno de inversão de papeis: as mulheres ao ataque. Cínicas e perversas, mestres na arte da caça, as mulheres seguiram um novo caminho. Têm todos os direitos e nada têm a dar aos seus adoradores. Nada obriga-as a cumprir o seu dever para com eles nem a representar o seu papel no contrato natural entre os sexos. Quais deuses da antiguidade? A especial indisponibilidade que as reserva exclusivamente aos deuses celestes. Percebendo o seu poder, a mulher começou a recusar o que deseja e exige um pequeno espectáculo de horror antes de decidir qual o espécime que vai abocanhar. Quando não se dá o caso de querer apenas divertir-se com o digladiar de trunfos e rasteiras dos servos a seus pés. É preciso ver sangue na arena: garras de fora e mais uma presa à beira do precipício.

E os homens todos desesperados numa correria louca e desenfreada atrás das Cárites. É preciso avançar e conquistar seja como for e deixar os outros concorrentes para trás. «As minhas penas de pavão são mais bonitas que as tuas.»

Eu gosto de observar. Pelo menos não me sinto aborrecido. Rio-me das figuras dos outros. E no decorrer deste espectáculo as pessoas acabam por tirar a máscara. Ou colocam mais uma. É o jogo das aparências. Nada parece o que é e tudo se parece ao mesmo tempo com diversas outras coisas. É um fenómeno incrível, digno de ser contemplado com a crosta de banalidade evidente que os nossos olhos já se habituaram a ver. Uma coisa artificial, arranjada, levemente monstruosa, mas estranhamente divertida.

Contactos humanos banais que chegam às raias do absurdo.


a.r.T.

sábado, 13 de junho de 2009

Acho que pode ser ainda melhor...


Por um momento mesmo que não me consiga expressar, que dessa singular consciência nasça algo que nos consiga aproximar ainda mais...


A.r.t.

quarta-feira, 10 de junho de 2009


Hoje estou INSEGURANTE!

terça-feira, 9 de junho de 2009


Eu grito por ti. Mas tu não escutas.
Eu grito por ti. Mas tu ignoras-me.
Devolve-me o coração!


a.r.T.

Delírios Ébrios


Acordo com a boca a saber a álcool, seca como serradura, e uma dor de cabeça daquelas. Que ressaca! O whisky de ontem à noite era muito mau. E uma garrafa inteira... O que vale é que foi uma noite e tanto. Amigos, copos. Música, copos. E hoje esta maldita ressaca. Mas valeu a pena. Conversa fiada e copos. Olhares promíscuos e copos. Sorrisos trocados e mais copos. E lá se foi uma garrafa inteira de whisky. E depois outra e mais outra. Perdi a conta de quantas. Ai, que dor de cabeça! Corpos a dançar, palavras segredadas, o roça-roça... e a noite termina num quarto desconhecido, numa cama com uma desconhecida. Ou será que a conheço? Não me parece. Os dois completamente nus em cima da cama e eu com a tranca tesa como um cacete. Que fiz eu, ó Deus!?!?! Foi da garrafa de whisky martelado. Aquela mesma que me deu esta ressaca descomunal. Ela dorme que nem uma pedra. Deve estar tão anestesiada que não acorda com nada. Olhos redondos e escuros, boca escarlate e o rosto de um branco lívido contra um fundo de cabelos negros e encaracolados. Soubeste escolher ao menos! Levanto-me e abro a janela. Preciso de ar fresco. Dá para perceber que já é tarde: o sol vai alto e o movimento desenfreado. Mas afinal que faço eu aqui? Calma, mané!!! Saio do quarto e percorro a casa como se estivesse na maior escuridão. Não reconheço nada. Avanço decidido. Ao fim de várias tentativas acabo por encontrar a casa de banho. Lavo a cara e olho-me ao espelho. Que triste figura. Olhos raiados de vermelho, cara fúnebre. Pareço um estafermo. Respiro fundo e recupero um pouco. Regresso ao quarto para me vestir na maior fúria e rapidez. A rapariga continua a dormir. Quero desaparecer antes que acorde. Pé ante pé mergulho de um terceiro andar para a rua. Esta zona é-me familiar. Com o sol a ferir-me os olhos ponho-me em busca de um táxi. Ao fim de 15 minutos estou à porta de casa. Finalmente, o santuário. Tomo uma série de comprimidos e bebo uma garrafa de água na esperança que a ressaca acalme. Deito-me na cama e esforço-me para adormecer. Quero esquecer. Esquecer rapidamente. Porventura, isto terá sido um sonho e não saí sequer da cama. É melhor assim. Amanhã à noite será outra aventura. Quem sabe onde termina? Amanhã não bebo whisky. Vou beber vodka.


a.r.T.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Corro, corro para não mais parar...


Conheço-me pior do que penso mas não me importa. O Homem que sou olha para mim e diz que não me escondo e por isso, embora corra, não me escondo.


A.r.t.