segunda-feira, 27 de julho de 2009

Ficções da minha imaginação


Sinto-me mais à vontade no mundo fictício que criei para mim mesmo do que no mundo do real. A vida das minhas emoções mudou-se para as salas da imaginação e assim passo detalhes de uma vida suposta. Abri uma nova estrada à fantasia e agora sou um estrangeiro na realidade. Calo-me e retiro-me para a região da imaginação, o pais longínquo da fantasia, donde sou natural e onde me sinto à vontade. De quando em quando faço uma incursão rápida, atrevo-me a atravessar a fronteira que separa o meu mundo privado do mundo dos factos ordinários. Transeunte eterno entre aqui e acolá.

À noite, às vezes, com a casa quieta, aconchegado no sofá vou ver os barcos a partir e a chegar no Tejo. Fico a observá-los, atento ao pormenor da navegação, e logo salto para o convés de um veleiro, levanto âncora, solto as amarras, giro a roda do leme dentro de mim, quilhas, mastros, gáveas e velas içadas, e o veleiro larga do cais. Parto em direcção ao mar, por aí afora, pelas ondas... Sinto, e sentindo isto entrego-me mais, os lábios salgados pela espuma arremessada pelo vento, o cheiro da maresia, o sol e ar marítimo curtindo-me a pele, o marulho da água de encontro ao casco cantando-me ao ouvido.

Mas eis que acordo deste meu oceano interior, abro os olhos que não fechei, e o rio tão próximo esfumaça-se como o fumo dum vapor no mar alto. Estou longe do marinheiro que fui há momentos.

Por isso gosto de me perder nas áleas e avenidas da minha imaginação, nos cais e estações do meu devaneio, bastando-me para tanto fechar os olhos na eterna insaciabilidade dos meus sonhos perenes.


a.r.T.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Euzinhos...


Ehehehehhe... Bora lá digo eu às putas das letras hoje - desculpem desde já a quantidade de palavrões e não penso que me apetece exorcizar, mas hoje tem mesmo de ser. Não faço por mal mas apetece-me violar as letras e as palavras. Começo como é claro pelas letras. Obrigo umas e outras a relacionarem-se, mesmo aquelas que sendo Homofóbicas não gostam de se relacionar com as do mesmo género ou suas semelhantes ou seja lá que autocastração se impuseram.

Mas depois penso que devia ter violado antes de mais as regras, e agora com uma objectividade exterminante dirijo-me à gramática e mando-lhe um grande pontapé nos tomates.... e antes de começar a ouvir as letras a gritar de medo começo a rir de satisfação, uma vez violada a gramática as letras só podem mesmo ser algo deliciosas de se papar.

Depois olho para aquela turma imensa e digo algo como: - "Quero tudo na puta da loucura, um gang bang ou algo ainda pior a roçar o inferno de Dante. Ai de quem eu veja a pastar gado na inércia!" Tudo isto ao som de um "Don't stop till you get enough". Depois um segundo acto onde agrupadas as letras alinham em todo o tipo de actividades colectivas dadas a conhecer ao Homem, da guerra ao sexo em grupo passando por tudo aquilo que é passível de tornar a unidade em união.

Concluída essa grande farra e depois de terem sido consumidas todas as energias deste imenso código linguístico deixo-as dormir encaixadas umas nas outras, numa exaustão que me obriga a fazer um pequeno almoço continental, e curtirem um dia em paz e sossego onde ressaca não é o prato principal mas onde acima de tudo a minha ausência, que procuro que seja total, permita mesmo assim orientar as hostes, e onde as letras e palavras possam curar não só a ressaca como todo os ressabiamentos ou desentendimentos ou aversões que tinham entre si, desde que não abandonem aquele espaço que as obriga a se relacionarem mesmo que às vezes com maior ou menor sentido ou maior ou menor número de leitores... enfim elas no fim são todas minhas amigas e só algumas minhas amantes mesmo.


A.r.t.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

«Quis Saber Quem Sou, O Que Faço Aqui...»


Pergunto a mim próprio um sem número de vezes por que razão a minha vida tomou a forma e o rumo que tomou. Por que me tornei eu um empregado de escritório? Um administrativo, administrador de papéis e faxes, gestor de resmas de correspondência, atendedor automático humano de chamadas, agrafador compulsivo de contas alheias... Por que vivo sozinho neste apartamento minúsculo? Império de um César caído, sem espaço para ter uma mesa e cadeiras para receber os amigos que não tenho, para por o piano de cauda que não sei tocar, sem uma porta por onde fugir numa possibilidade de desabamento do tecto de astros... Por que sou assim, frio e ausente? Um ser frágil, de corpo envenenado. E por que razão penso em tudo isto agora?

Irrequieta-me pensar nisto, perco o sono, fico exausto e descontrolado. Sou como sou. Sou quem sou. Sou. Mas quem sou eu afinal? E por que serei eu assim? Será que cheguei aqui depois de ter entrado por um qualquer caminho errado ao longo da vida? A nossa vida, afinal, é definida por oportunidades, mesmo aquelas que perdemos. Se tivesse feito opções diferentes ao longo da vida seria eu muito diferente daquilo que hoje sou?

A vida é para nós aquilo que concebermos nela. Eu esculpi a minha vida como se de um sonho inacabado se tratasse. Uma vida que nunca chegou verdadeiramente a sê-la. Em sonhos consegui tudo, mas na vida vivida não sou mais que uma sombra de porcelana daquilo que sempre quis ser. Quero ser tal qual quis ser e não sou.

De que vale pensar nisto se a minha vida afinal é mais que isto? Hoje acordei sereno, demasiado sereno para estar bem. Demasiado fraco para me deixar abalar por interferências existenciais. Sinto-me a encolher dentro da cama de lençóis frios. Dói-me a cabeça. Dói-me o corpo. E devagar extingo-me, devagar... Deixo-me ficar deitado sem me mexer. Faço um esforço para me levantar, mas o dia não promete mais que um rol de perguntas inúteis.



a.r.T.

Duas horas. Duas horas que pareceram infinitas, durante as quais estive ali, sentado, esperando que falasses comigo. Em duas horas os músculos do coração contraem-se e relaxam-se, contraem-se e relaxam-se de novo, oito mil vezes. O ponteiro dos segundos move-se sete mil e duzentas vezes. A terra percorre duzentos mil quilómetros na sua órbita. O beija-flor bate as asas quinhentas e quarenta mil vezes. Duas horas são quase nada. O tempo suficiente para escutar a Nona Sinfonia de Beethoven e dois dos quartetos póstumos, para voar de Lisboa a Paris, para fazer passar o jantar do estômago para o intestino delgado, para ver a obra-prima de Elia Kazan, Esplendor na Relva, para morrer de mordedura de uma cobra. Nada mais. A mim pareceram-me uma eternidade. Duas horas que esperei por ti em vão...



a.r.T.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Aplaudo de Pé

O Pão e Circo continuam em alta, mas hoje sinto que se come mais o pão sozinho e vê-se o circo pela televisão. Estamos por sinal mais distante da realidade? O que não parece perder o vigor de tempos idos é a capacidade dos aplausos que, mesmo que se tenham tornado um pouco mais banais, não deixam de encher de aquele gás raro chamado de Ego todos os que o recebem.

Aplaudo de pé todos os que não exercitamos as virtudes pela excelência delas, mas pela honra do exercício das mesmas.


A.r.t.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Pica-pica, pica mas é o...


Um nada bem pior do que todos os "rien, meu filho, rien", que é sem duvida das melhores expressões que invadem o nosso rico Portugal aquando da chegada do Verão, é o que se segue:

Todo aquele vazio que sinto quando oiço um "nade de isto ou aquilo..." faz-me ter reacções espontâneas de uma natureza que procuro apenas descrever como ao mesmo nível do estímulo.
Fico mesmo apreensivo com aquilo que somos, e quanto à verdadeira castração, censura e medo que está em nós - e diga-se que é em nós que devemos cuidar de manter, é que a menor gota dessa matéria gordurosa, polui um volume incomensurável de coisas boas que tendem a ser mais sensíveis do que aquelas que verdadeiramente são merecedoras dessas imposições de limites ou restrições.

Continuam a existir Bestas e essas, que acham e vão mesmo mais longe ao agir em nome de algo que supostamente deverá ser na sua opinião a mais valia das mais valias e aquilo que temos de cuidar mesmo que em sacrifício de tudo o resto, essas bestas sim é que deveria usar mais o filtro em si próprios do que seja lá no que for...

Alguém uma vez me disse que para uma estrela brilhar não tem de eclipsar as outras, mas acho que as bestas não são dadas a conter este tipo de conteúdos e por isso acho que ainda vou ter que gramar com muitas besteiras e praticar também mais algumas, sim não me livro disso, mas ainda bem, pois bem como para se falar de amor nada como o sentir na pele esse estado, o mesmo se aplica às coisas menos elevadas.

Mas antes de sentir a picadela do veneno que todos sabemos que é usado pela cobra nos outros outros animais, quero dizer que o que poucos sabem que a própria cobra não é imune ao seu próprio veneno...


A.r.t.

sábado, 11 de julho de 2009

Calhaus Há Muitos


Um calhau será sempre um calhau. Um calhau da calçada jamais transformar-se-á num diamante. Pode, quanto muito, lapidar algumas arestas para parecer-se menos com um calhau e mais com um diamante mas sem nunca chegar verdadeiramente a sê-lo.

Esta ideia ocorreu-me depois de ter estado recentemente num jantar na presença de alguns calhaus que, curiosamente, ao fim de tantos anos, ainda têm pretensões a outra posição geológica que não a de pedras não preciosas. A estes calhaus, que vou encontrando ao longo da vida, digo-lhes: «Deixem-se de aparências! De que vale ter o cabelo arranjado e as unhas feitas se se tem a alma suja? Sabem, um calhau será sempre um calhau.»


a.r.T.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Saferzone


Ler ou ouvir determinadas coisas deveria abrir-nos os horizontes ou, acima de tudo, acrescentar algo para irmos mais longe. Mas e quando faz exactamente o oposto? É que o "velho do Restelo" ainda se encontra em muito do que por ai é dito à boca miúda ou graúda sem, no entanto, ser totalmente clara essa postura. A língua portuguesa que, convenhamos às vezes trato muito mal, não deixa de ser muito polivalente e até dada a uma certa ambiguidade, mas sinto-me à vontade para dizer que hoje é comum não querer levantar muitas ondas nem nada que agite a nossa pessoa e muito menos os outros, se não forem claros os ganhos dai resultantes. Sim, tinha de haver essa resalva, o people por aquilo que quer faz as coisas mais sórdidas e absurdas e defende a beleza do seu cadáver até à impossibilidade e mais além. Mas pretender-se uma falsa segurança mergulhada numa mediocridade mediana ou, simplesmente, reconher-se a ideia mais redutora que seria a de colocar as coisas apenas como uma questão da nossa própria dimensão. Eu, eu, eu, eu e todos os a mim referidos eus, no fundo talvez a nossa limitada capacidade de avançar ou recuar seja antes de mais um eu profundo e egoísta, saturado de "em minha função" e onde no final impera o se vale ou não a pena ir para além do safezone...


A.r.t.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Warp Speed...


Para quê ficar aquém é não mais além?


Ui, hoje voltei a gramar com um determinado e cabal NÃO que me tira do sério. Descurto a dica de cair em graça ou seja lá o que for que vá ao encontro de uma contenção ou moderação de estilo ou forma quando está mais do que evidente toda a magnífica presença de um determinado e avassalado "ELEMENTO". Se ele é gritante porque não gritar? - "Ahhh, é que fica mal", alguns irão insinuar ou porventura temos de mostrar apenas aquilo que de melhor possuímos e que ajude a ilustrar toda a nossa magnífica pessoa em todo o seu esplendor. Hoje foi uma Médica, mas bem podia ter sido o coveiro iria resultar igual.

Posso não dar tudo aquilo que queres mas não deixo de dar tudo aquilo que julgo ser o que precisas. Posso sempre aceitar que isso não é uma perda de tempo, pois vejo isso como parte do contrato de ter uma parte activa e positiva no momento com quem estou.

Agora junto todos os médicos e médicas do Mundo e aquilo que alguns, que não eu, pensam e têm como opinião e alimento aquilo que sinto e acredito, o que dai resulta será algo próximo de um ir muito além de palavras ou um simples navegar sozinho, seguindo alguém que não o sabe. Acho que não fomos feitos para segurar cavalos, mas sim para os agarrar na crina enquanto cavalgamos e por isso, sim, estou pronto para acordar amanhã... E não devo ser o único, a minha voz às vezes fala mais do que por mim, fala em mim...


A.r.t.

domingo, 5 de julho de 2009

Possuir ou talvez não?


"Possuir é perder. Sentir sem possuir é guardar, porque é extrair de uma coisa a sua essência"


Fonte: "Livro do Desassossego" Autor: Fernando Pessoa


A.r.t.