terça-feira, 31 de março de 2009

Pensamentos na Sanite


Sentado no trono e enquanto leio um diário desportivo, fico com a impressão de que quando alguém se refugia neste paraíso moral de não ter a principio um juízo formando, no fundo reconhece que não passa de um eterno escapista "Nunca pensei acerca disso" ou seja lá a forma que isso tome, só pode ser a bem da verdade uma lacuna diplomática para lidar com uma qualquer dificuldade presente, com a qual se está confrontado e conformado ou uma hipocrisia de cara tão deslavada que até mete nojo.

Ainda pior é ter presente que até poderia ser um óptimo inicio de conversa, mas dita a regra que seja o fim da mesma tal e qual um balde de merda e mijo sobre uma mesa farta, digo isto pois na minha "nada" modesta opinião a ignorância alimenta-se de duas coisas, ou de nós o que resulta numa barriga farta de miséria ou numa partilha aberta e franca com o outros.

Acho então que o grande responsável começa por ser esse reconhecimento inglório do que alguns ousam chamar intimidade e eu apenas descrevo aqui como o imenso vazio de possuir algo que não se utiliza ou que simplesmente se instrumentaliza a gosto dos caprichos a que todos nós somos sujeitos. E por também sermos muito conscientes quanto ao nosso lado menos luminoso estar presente sempre a coca do momento certo para agir ou nada fazer, é que nada fazer as vezes resulta ainda melhor como acto de desconstrução do que o próprio acto de desconstruir, perde-se algo ali que seria deveras interessante um dia se ver, que leitura a ciência faria desse acto tão comum no ser Humano.

Enfim o alivio resultante de desempenhar uma parte do todo que é este ciclo de comer e cagar, e que resulta em dois enormes prazeres: um que é o de comer algo delicioso e outro que passa por soltar a tripa sem contenção. É deverás criativo no mínimo e só assim se compreende que tanta merda salta da nossa sanite e da sanite alheia e borre o azulejo das casas de banhos públicos e todos aqueles lugares onde nos recolhemos todos nós mais tarde ou mais cedo, com maior ou menor vigor.

Dou vivas a todos os movimentos ortocólico, gastrocólico e os demais estímulos que ajudam a eliminar tudo aquilo que não absorvemos e que alguns teimam em expulsar de si mesmo sem nada na barriga.

P.S.- A merda não é vilã, e se alguns até a tratam por desconhecida é porque no fundo reconhecem que é infelizmente ou felizmente a graça daquilo com que de mais saudável ousa contribuir para a sociedade.

A.r.t.

Elogio ao "O Elixir do Pajé"


Devo por bem transcrever uma enorme verdade de Bernardo Guimarães :

"Que tens, caralho, que pesar te oprimeque assim te vejo murcho e cabisbaixosumido entre essa basta pentelheira, mole, caindo pela perna abaixo?

Nessa postura merencória e tristepara trás tanto vergas o focinho, que eu cuido vais beijar, lá no traseiro, teu sórdido vizinho!

Que é feito desses tempos gloriososem que erguias as guelras inflamadas,na barriga me dando de contínuotremendas cabeçadas?

Qual hidra furiosa, o colo alçando, co'a sanguinosa crista açoita os mares, e sustos derramandopor terras e por mares, aqui e além atira mortais botes, dando o co'a cauda horríveis piparotes, assim tu, ó caralho, erguendo o teu vermelho cabeçalho, faminto e arquejante, dando em vão rabanadas pelo espaço, pedias um cabaço!

Um cabaço! Que era este o único esforço, única empresa digna de teus brios; porque surradas conas e punhetassão ilusões, são petas, só dignas de caralhos doentios.

Quem extinguiu-te assim o entusiasmo? Quem sepultou-te nesse vil marasmo? Acaso pra teu tormento, indefluxou-te algum esquentamento? Ou em pífias estéreis te cansaste, ficando reduzido a inútil traste? Porventura do tempo a destra iradaquebrou-te as forças, envergou-te o colo, e assim deixou-te pálido e pendente, olhando para o solo, bem como inútil lâmpada apagadaentre duas colunas pendurada?

Caralho sem tensão é fruta chocha, sem gosto nem cherume, linguiça com bolor, banana podre, é lampião sem lumeteta que não dá leite, balão sem gás, candeia sem azeite.

Porém não é tempo aindade esmorecer,pois que teu mal ainda podealívio ter.

Sus, ó caralho meu, não desanimes,que ainda novos combates e vitóriase mil brilhantes glóriasa ti reserva o fornicante Marte, que tudo vencer pode co'engenho e arte.

Eis um santo elixir miraculosoque vem de longes terras, transpondo montes, serras, e a mim chegou por modo misterioso.

Um pajé sem tesão, um nigromantedas matas de Goiás,sentindo-se incapazde bem cumprir a lei do matrimónio, foi ter com o demónio, a lhe pedir conselhopara dar-lhe vigor ao aparelho, que já de encarquilhado,de velho e de cansado, quase se lhe sumia entre o pentelho. À meia-noite, à luz da lua nova, co'os manitós falando em uma cova, compôs esta triagade plantas cabalísticas colhidas, por sua próprias mãos às escondidas.

Esse velho pajé de pica mole, com uma gota desse feitiço,sentiu de novo renascer os briosde seu velho chouriço!

E ao som das inúbias, ao som do boré,na taba ou na brenha, deitado ou de pé, no macho ou na fêmeade noite ou de dia, fodendo se viao velho pajé!

Se acaso ecoandona mata sombria, medonho se ouviao som do borédizendo: "Guerreiros, ó vinde ligeiros, que à guerra vos chamaferoz aimoré", assim respondiao velho pajé, brandindo o caralho ,batendo co'o pé :- Mas neste trabalho, dizei, minha gente, quem é mais valente, mais forte quem é? Quem vibra o marzapocom mais valentia? Quem conas enfiacom tanta destreza? Quem fura cabaçoscom gentileza?"

E ao som das inúbias, ao som do boré, na taba ou na brenha, deitado ou de pé, no macho ou na fêmea, fodia o pajé.

Se a inúbia soandopor vales e outeiros, à deusa sagradachamava os guerreiros, de noite ou de dia, ninguém jamais viao velho pajé, que sempre fodiana taba na brenha, no macho ou na fêmea, deitando ou de pé, e o duro marzapo, que sempre fodia, qual rijo tacapea nada cedia!

Vassouras terríveldos cus indianos, por anos e anos, fodendo passou, levando de rojodonzelas e putas, no seio das grutasfodendo acabou! E com sua mortemilhares de gretasfazendo punhetassaudosas deixou...

Feliz caralho meu, exulta, exulta! Tu que aos conos fizeste guerra viva, e nas guerras de amor criaste calos, eleva a fronte altiva; em triunfo sacode hoje os badalos; limpa esse bolor, lava essa cara, que a Deusa dos amores, já pródiga em favores hoje novos triunfos te prepara, graças ao santo elixir que herdei do pajé bandalho, vai hoje ficar em péo meu cansado caralho!

Sus, caralho! Este elixirao combate hoje tem chamae de novo ardor te inflama para as campanhas do amor! Não mais ficará à-toa, nesta indolência tamanha, criando teias de aranha, cobrindo-te de bolor...

Este elixir milagroso, o maior mimo na terra, em uma só gota encerra quinze dias de tesão...Do macróbio centenário ao esquecido mazarpo, que já mole como um trapo, nas pernas balança em vão, dá tal força e valentia que só com uma estocada põe a porta escancarada do mais rebelde cabaço,e pode em cento de fêmeas foder de fio a pavio, sem nunca sentir cansaço...

Eu te adoro, água divina,santo elixir da tesão, eu te dou meu coração, eu te entrego a minha porra! Faze que ela, sempre tesa, e em tesão sempre crescendo, sem cessar viva fodendo, até que fodendo morra!"

Admirável Mundo Velho ;)


A.r.t.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Torre Vã


Por vezes apetece-me perder-me. Ausentar-me durante horas, entrar num mundo vácuo, e descobrir uma torre vã perdida em frente ao mar. A ruína de uma antiga fortaleza que, como um sentinela adormecido, ali perdura num passo sonâmbulo e estático. Um espaço vazio com apenas uma porta para um promontório onde se pode adivinhar o mundo. E então, olhar o céu e emocionar-me. Sem medos, sem condições, espalhar ao mundo a minha vida interior, e num encanto celestial ouvir um murmúrio perpétuo – como se as estrelas falassem, conspirassem entre si.


a.r.T.

Uma Página de Escuridão


Ultimamente, nada parece interessar-me. Aliás, a única coisa que me interessa é o facto de não conseguir interessar-me por nada. Desde há algum tempo tenho andado sob a influência de estados de espírito de diversas formas e feitios que me fazem cair no esquecimento e que se abatem sobre mim como uma tempestade. Pesadelos recorrentes que selam um pacto eterno com o silêncio. Um peso que aperta a garganta. Parece que fui feito prisioneiro numa qualquer sela de um hospital de psiquiatria, secção psiconevroses. Desorientado, alienado. Em fúrias descontroladas passo as mãos pelos cabelos curtos e emaranhados e temo levantar voo a qualquer momento.

Só pouco a pouco começo a emergir para qualquer coisa vagamente parecida com a realidade. Lentamente vou arrumando ideias embaciadas e limpando cacos antigos do meu espírito. Libertar-me, no fundo, de velhas sombras que não devem mais estar lá, enquanto o espectro das hipóteses causais se dissolve.

E assim, no correr vazio de horas sem fim sento-me na cama, de pijama vestido, a embalar um copo de conhaque e a ver a cinza do cigarro a encaracolar na ponta. Pensativo, procuro uma razão, uma explicação e ali permaneço como sonâmbulo, remoendo sobre um assunto que tenho de polir para sempre para que continue a brilhar.


a.r.T.

Desejo e des(t)alento


Sei que enfermo de não saber dizer, e definir em palavras, o que sinto. Penso constantemente em dar forma, em expressar os sentimentos e pensamentos que dominam a minha vida interior. Sinto uma voz inconformada a tomar forma dentro de mim e procuro escutá-la. Mas custa-me encontrar a maneira exacta, a roupagem certa, para transmitir aquilo que esta voz íntima tem a dizer. O meu talento é demasiado boçal. Tenho tanto para dizer mas tão pouco dom.

E assim triste e só por não partilhar, vou sobrevivendo às minhas horas exaustas.


a.r.T.

terça-feira, 17 de março de 2009

Intermitências ou Dormências ?


Torno confuso a seguinte ideia à medida que o dia passa: oiço sempre falar em fases e momentos e fracções e partes e na necessidade de separar os elementos que constituem um todo para o melhor compreender, mas no entanto todas aquelas subidas e descidas que temos no decorrer da vida, independentemente do grau de inclinação ou duração, deveriam ser fáceis de compreender

Não deixo de pensar que isso possa ser apenas um capricho a que a nossa interpretação nos sujeita por ela mesmo ser também uma parcela. A interpretação faz com que uma mesma realidade posteriormente deixe não só de ser o que era, como ganham forma aspectos que às vezes até contradizem aquilo que já fora à partida. Fico então curioso relativamente a essa capacidade racional da interpretação que, sendo uma ferramenta, possui um preço muito alto na sua utilização, e que acima de tudo assenta na capacidade de destruir tudo aquilo que constrói ou toca por um simples capricho.


A.r.t.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Traumatismos Ideológicos


O tempo voa. O tempo voa e é certo que certas pessoas também são mais dadas a voar do que outras. Mas independentemente disso acho que é recomendável um pouco de cautela nessa actividade radical de altos voos, pois para além de requerer muita ginástica mental como base de preparação é preciso controlar as excitações resultantes do simples facto de tirar os pés do chão ou de olhar para o céu e sentir toda a vertigem desse imenso espaço - mesmo com a ajuda que algumas boas companhias aéreas nos dão para mitigar esses efeitos. Todavia, aquele friozinho na barriga a que muitos chamam cagufa, miufa, medo, receio ou seja lá o que for que nos faz dispar todos os alarmes, não é hoje para aqui chamado.

Não quero saber do antes, do durante ou do depois. O que hoje venho aqui relatar aconteceu como uma simples resposta ao reflexo de ter fechado os olhos; e se tem a ver com a capacidade de voar em si mesmo ou não, não sei. Embora haja que ter em conta que se isto fosse uma questão então essa mesma residiria em ter de ir além ou ficar já aqui mesmo. Tretas à parte, o que pretendo mesmo é dizer que hoje dei um salto e me esmerdalhei todo no chão. Nada de cenas a Ícaro, não teve nada de épico ou fora do comum, nem tão pouco desconhecido da maioria, foi mais um daqueles saltos do género que a Heidi nos presenteava enquanto ia pelos Alpes a passear completamente distraída. Num instante dei comigo com uma tremenda dor nas partes baixas sem sequer aperceber-me que vinha a dormir de olhos abertos. Tal e qual um qualquer animal de rebanho aparado pelo efeito de grupo sem ter em conta a tremenda ilusão que isso às vezes representa: a vida sabe escolher muito bem a quem deve abrir os olhos em dado momento, acho eu... Enfim, lá me levantei e ainda um pouco dorido agradeci o facto da gravidade ter sido meiga comigo e o meu dormitar não me ter levado a ousar, de forma inconsciente, a ter subido mais alto para tão amargo desfecho. É que hoje senti-me um camionista de um TIR que de volta para casa, depois de 3.000 km, espeta-se numa recta curvante a 1.5 km de casa, sem ter dado por nada e em que apenas o orgulho "chapa" acusou o transtorno de ter batido nos railes. É que nem sequer dai resulta nada de verdadeiramente significativo além de um enorme warning: acorda que o tempo voa e tu andas nele bem montado.

A.r.t.

sábado, 7 de março de 2009


sinto os nossos corações baterem
ao mesmo ritmo
vejo o clarão do desejo singrar
em nossos olhos cegos
e na cadência deste amor
vamos construindo um paraíso
de preciosas essências

a.r.T.

quarta-feira, 4 de março de 2009

! Só(u) Louco ?


Começo com um tributo a Gal Costa e Dorival Caymmi e a musica é Só louco:

"Só louco
Amou como eu amei
Só louco
Quis o bem que eu quis
Ah! Insensato coração
Por que me fizeste sofrer?
Porque de amor
Para entender
É preciso amar
Porque...
Só louco...
Só louco... "

E queria ainda acrescentar que acho necessário não só querer esse bem como dizer que só mesmo um louco o recusa e tenta ser feliz.

segunda-feira, 2 de março de 2009

O circo das bestas...e dos cordeiros


Acabei de ver um vídeo de um animal a ser esfolado vivo, tanto quanto o meu organismo me permitiu. Não é sadismo da minha parte, mas gosto de levar estas "chapadas" de vez em quando. Fazem-me bem. Ainda enjoado e a tentar colocar as emoções e ideias no lugar não consigo evitar as perguntas e inquietações que vêm ao de cima. Talvez a primeira tenha sido se isto se passa num outro qualquer planeta ou galáxia. A resposta é óbvia. Impossivel. Nao existe vida, que se saiba, para além do nosso planeta azul, muito menos na forma que a conhecemos. Não. Acontece aqui mesmo, neste belo planeta (pelo menos visto de uma distância que induza a falta de acuidade e, consequentemente, a camuflagem das inumeras marcas e cicatrizes, físicas e emocionais, que o nosso espécime lhe vai infligindo - convém-nos que assim seja). Acontece aqui mesmo “ao lado”, no país de onde vêm as grandes tecnologias e as lojas dos trezentos. Vejo isto e lembro-me destas e de muitas outras atrocidades, mais do que sabidas, que passam pelos olhos e ouvidos dos demais com uma impunidade sórdida, como que se de uma qualquer ficção macabra se tratasse, e que me fazem questionar em que espécie de circo vivemos. Não consigo parar de pensar que aqueles que se dizem humanos, com sentimentos e valores, mas que viram as costas a estas injustiças espalhadas pelo mundo para viverem no seu comodismo, na sua comodidade, não são mais do que cúmplices em diferentes graus. Existem seres, ditos racionais, capazes das maiores atrocidades, inigualáveis no restante mundo animal, feitas de coração vazio, sem qualquer justificação senão a de um egoísmo e ganância atrozes. Deixamo-nos conspurcar por estes ditos seres humanos e nada fazemos, tornamo-nos irracionais como eles quando apenas nos preocupamos com o que nos afecta a nós e ao nosso pequenino mundo, com o que afecta as nossas pretensões. Vivemos numa sociedade onde se cultiva apenas as metas pessoais, onde é aceitável preocuparmo-nos só connosco, onde, se seguirmos à risca os seus desígnios, nos tornamos “gente”. Assumimos então o papel que nos foi entregue neste “mundinho” sem nos questionarmos, quais fantoches: o IRS aumenta todos gritam, o Benfica perde todos choram, é carnaval todos sambam, e a miséria e a injustiça espalhadas pelo mundo ninguém vê, não é seu problema. Calam-se as vozes. Baixam-se os braços. Tudo continua bem. Ainda são o Sr. Engenheiro ou a Sra. Doutora. Ainda levam os filhinhos à escola no “seu” carro importado e vão à Igreja Domingo de manhã tentar compensar a merda que fazem durante o resto da semana, apaziguar a sua consciência, não vão perder o seu lugarzinho no céu (até mesmo para isso vão pelo caminho mais fácil). Estão errados? Não. Assim foram ensinados, desumanizados, acovardados. Mas pouco me impressionam ou merecem a minha admiração. Morremos de medo dos AVCs e papamos anti-depressivos como tremoços, mas insistimos em continuar. Não temos tempo para nos apercebermos que algo está mal, para pensar naqueles que não tiveram ou têm a nossa sorte e tomar uma posição activa nestas questões, para procurar um novo sentido de estar vivo, para lá das nossas muralhas. Mas não me cansarei de dizer o que penso, não me calarei. Tenho a esperança de quem acredita que uma nova consciência ganha forma nas novas gerações.

a.R.t.