segunda-feira, 16 de março de 2009

Traumatismos Ideológicos


O tempo voa. O tempo voa e é certo que certas pessoas também são mais dadas a voar do que outras. Mas independentemente disso acho que é recomendável um pouco de cautela nessa actividade radical de altos voos, pois para além de requerer muita ginástica mental como base de preparação é preciso controlar as excitações resultantes do simples facto de tirar os pés do chão ou de olhar para o céu e sentir toda a vertigem desse imenso espaço - mesmo com a ajuda que algumas boas companhias aéreas nos dão para mitigar esses efeitos. Todavia, aquele friozinho na barriga a que muitos chamam cagufa, miufa, medo, receio ou seja lá o que for que nos faz dispar todos os alarmes, não é hoje para aqui chamado.

Não quero saber do antes, do durante ou do depois. O que hoje venho aqui relatar aconteceu como uma simples resposta ao reflexo de ter fechado os olhos; e se tem a ver com a capacidade de voar em si mesmo ou não, não sei. Embora haja que ter em conta que se isto fosse uma questão então essa mesma residiria em ter de ir além ou ficar já aqui mesmo. Tretas à parte, o que pretendo mesmo é dizer que hoje dei um salto e me esmerdalhei todo no chão. Nada de cenas a Ícaro, não teve nada de épico ou fora do comum, nem tão pouco desconhecido da maioria, foi mais um daqueles saltos do género que a Heidi nos presenteava enquanto ia pelos Alpes a passear completamente distraída. Num instante dei comigo com uma tremenda dor nas partes baixas sem sequer aperceber-me que vinha a dormir de olhos abertos. Tal e qual um qualquer animal de rebanho aparado pelo efeito de grupo sem ter em conta a tremenda ilusão que isso às vezes representa: a vida sabe escolher muito bem a quem deve abrir os olhos em dado momento, acho eu... Enfim, lá me levantei e ainda um pouco dorido agradeci o facto da gravidade ter sido meiga comigo e o meu dormitar não me ter levado a ousar, de forma inconsciente, a ter subido mais alto para tão amargo desfecho. É que hoje senti-me um camionista de um TIR que de volta para casa, depois de 3.000 km, espeta-se numa recta curvante a 1.5 km de casa, sem ter dado por nada e em que apenas o orgulho "chapa" acusou o transtorno de ter batido nos railes. É que nem sequer dai resulta nada de verdadeiramente significativo além de um enorme warning: acorda que o tempo voa e tu andas nele bem montado.

A.r.t.

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