segunda-feira, 2 de março de 2009

O circo das bestas...e dos cordeiros


Acabei de ver um vídeo de um animal a ser esfolado vivo, tanto quanto o meu organismo me permitiu. Não é sadismo da minha parte, mas gosto de levar estas "chapadas" de vez em quando. Fazem-me bem. Ainda enjoado e a tentar colocar as emoções e ideias no lugar não consigo evitar as perguntas e inquietações que vêm ao de cima. Talvez a primeira tenha sido se isto se passa num outro qualquer planeta ou galáxia. A resposta é óbvia. Impossivel. Nao existe vida, que se saiba, para além do nosso planeta azul, muito menos na forma que a conhecemos. Não. Acontece aqui mesmo, neste belo planeta (pelo menos visto de uma distância que induza a falta de acuidade e, consequentemente, a camuflagem das inumeras marcas e cicatrizes, físicas e emocionais, que o nosso espécime lhe vai infligindo - convém-nos que assim seja). Acontece aqui mesmo “ao lado”, no país de onde vêm as grandes tecnologias e as lojas dos trezentos. Vejo isto e lembro-me destas e de muitas outras atrocidades, mais do que sabidas, que passam pelos olhos e ouvidos dos demais com uma impunidade sórdida, como que se de uma qualquer ficção macabra se tratasse, e que me fazem questionar em que espécie de circo vivemos. Não consigo parar de pensar que aqueles que se dizem humanos, com sentimentos e valores, mas que viram as costas a estas injustiças espalhadas pelo mundo para viverem no seu comodismo, na sua comodidade, não são mais do que cúmplices em diferentes graus. Existem seres, ditos racionais, capazes das maiores atrocidades, inigualáveis no restante mundo animal, feitas de coração vazio, sem qualquer justificação senão a de um egoísmo e ganância atrozes. Deixamo-nos conspurcar por estes ditos seres humanos e nada fazemos, tornamo-nos irracionais como eles quando apenas nos preocupamos com o que nos afecta a nós e ao nosso pequenino mundo, com o que afecta as nossas pretensões. Vivemos numa sociedade onde se cultiva apenas as metas pessoais, onde é aceitável preocuparmo-nos só connosco, onde, se seguirmos à risca os seus desígnios, nos tornamos “gente”. Assumimos então o papel que nos foi entregue neste “mundinho” sem nos questionarmos, quais fantoches: o IRS aumenta todos gritam, o Benfica perde todos choram, é carnaval todos sambam, e a miséria e a injustiça espalhadas pelo mundo ninguém vê, não é seu problema. Calam-se as vozes. Baixam-se os braços. Tudo continua bem. Ainda são o Sr. Engenheiro ou a Sra. Doutora. Ainda levam os filhinhos à escola no “seu” carro importado e vão à Igreja Domingo de manhã tentar compensar a merda que fazem durante o resto da semana, apaziguar a sua consciência, não vão perder o seu lugarzinho no céu (até mesmo para isso vão pelo caminho mais fácil). Estão errados? Não. Assim foram ensinados, desumanizados, acovardados. Mas pouco me impressionam ou merecem a minha admiração. Morremos de medo dos AVCs e papamos anti-depressivos como tremoços, mas insistimos em continuar. Não temos tempo para nos apercebermos que algo está mal, para pensar naqueles que não tiveram ou têm a nossa sorte e tomar uma posição activa nestas questões, para procurar um novo sentido de estar vivo, para lá das nossas muralhas. Mas não me cansarei de dizer o que penso, não me calarei. Tenho a esperança de quem acredita que uma nova consciência ganha forma nas novas gerações.

a.R.t.

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