quinta-feira, 25 de junho de 2009



Na tranquilidade da noite florescem por detrás desta janela indiscreta luzes sem fim. Tudo na cidade que daqui vejo reflecte a luz das ruas e sobe para ferir vagamente os meus olhos vidrados. Fico em silêncio a observar com emoção. Uns minutos. Creio que não penso em nada. Agrada-me um pouco de vazio e nada. Participar da noite e do silêncio. Apenas um fio invisível liga-me ao que se passa lá fora deste falso privilégio de altura.

Num sobressalto de consciência, a recordação amada cresce em torno de mim e traz-me de volta. Por que não estás aqui para me consolar da insuportável tristeza desta magnifica noite que se vê do lado de fora da minha janela? A escuridão luarenta do céu, os diversos tons de cores dos candeeiros acessos, um corpo indistinto, as sombras murmurantes, os ruídos sibilantes que irregularizam esta imagem irreal. Tudo isto me dá vontade de explodir em ânsias! Não é somente esta paisagem. São os meus braços que oscilam pendentes, a minha mão enquanto escrevo, os meus ombros cansados, a poltrona que vai levantar voo a qualquer momento, o meu rosto reflectido no vidro quase fosco da janela. A vontade de te ter de novo...

Sem ninguém, abro a janela para dentro de mim e esqueço-me desta paisagem interior que se esfumaça. Quem me dirá as palavras inauditas que gostaria de ouvir no silêncio que vem da luz declinante?

O meu coração já não está onde o deixei.



a.r.T.

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