sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

A arte de esquivar a agir


Tenho o terrível hábito de tudo deixar inacabado. Acredito, não sei por que alma, que a vida é tanto melhor quanto mais deixarmos que nos conduza. Não fazer nada para que aconteça tudo o que deve acontecer. Sempre que me proponho a fazer algo, uma louca cegueira invade-me e impede-me de concretizar. Nunca encontrei argumentos senão para a inércia. Este simples texto, por exemplo, foi interrompido um sem número de vezes. Perco-me a olhar para ontem. Até o amanhã é ontem às vezes. Todos os dias a desídia e a demanda travam dentro de mim uma batalha incessante e, sem fim à vista, eu suspiro de esperança pelo triunfo da concretização. Esforço-me, tento aplicar-me, mas habita o meu viver na negação individual do esforço. Sou a minha própria negação, o algoz da minha própria vontade. A vontade nasce e logo fenece como o orvalho da manhã. A caneca do café aqui poisada ao lado. Os retratos da família. Uma mosca que esvoaça perdida. O ponteiro dos segundos. Tic-tac, tic-tac, tic-tac. E o meu olhar perde-se turvo num pequeno ponto indefinido da parede do meu quarto. Esta espécie de momento pré-qualquer-coisa deixa-me a pensar no interior de uma impossibilidade. Nem razão nem lógica. Tomo as acções para dentro de mim e é lá que dou os passos da minha irrequietude. Tudo deixo inacabado e tudo isto pesa.

«Abicador, eis o que sou!»


a.r.T.

1 comentário:

pat78 disse...

felizmente a vida é isso mesmo, o nao saber como vai acabar, o nao saber se as decisoes que tomas são acertadas ou nao. são os imprevistos que nos fazem crescer e que nos proporcionam os momentos mais marcantes das nossas vidas. é muito bom ser acertivo e dizer que as coisas ou sao pretas ou sao brancas mas o cinzento tem a sua graça...um pé ca e outro acolá, não é para todos mas vale a pena o risco. a vida vale a pena sp....