sábado, 9 de janeiro de 2010

Despertar Angustiante

Hoje acordei como o tempo, cinzento e doentio. Deve ser desta maldita gripe que me assaltou o corpo sem aviso nem misericórdia. Despertei de um sono com sobressaltos e aqui fiquei estendido, em total penumbra, nesta cama húmida e febril.

O meu espírito está um velho caduco, nem com ajuda de muletas há-de chegar longe. Ponho-me de pé, as costas curvam-se e o andar encolhe em passinhos custosos, cambaleando como um doente de longo leito que se volta a erguer. Não me arrisco mais que a fronteira do meu quarto, estou frágil e ainda me desfaço em cacos de porcelana. Tenho a alma por cárcere e não sei como ajeitá-la a levar o meu corpo a evitar tropeçar em obstáculos que movem-se lentamente e a enredar-se em teias que não estão cá.

A angustia claustral de estar assim, moribundo. Quero desatar de mim esta canseira, esta peste, e pô-la de banda como um trapo velho. Não sei ser assim!

Está aí algum médico? Preciso de confirmação se estou vivo ou morto. A veia do pescoço a latejar mas não de sangue que esse já não tenho, há muito que secou, de vazio que corre do meu coração. E a carícia que nunca vem. A tua carícia, a bênção das tuas mãos. A luz ténue da manhã vagamente espalhada, este quarto de porta fechada sempre aberta, a febre em mim, o chão frio como lápides, as veias do pescoço desreguladas e prestes a rebentar, e a minha testa a arder... Falta o amor dos teus braços sonhados à roda de mim.


a.r.T.

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